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ELIANE CANTANHÊDE
Não viu, não leu, mas assinou
BRASÍLIA - Lula faz na crise com
as Forças Armadas o que fez no caos
aéreo: empurra com a barriga. Sem
condições de decidir entre Jobim e
os militares, de um lado, e Dilma,
Tarso Genro e Paulo Vannuchi (Direitos Humanos), de outro, ele simplesmente não decide. Foi para a
Bahia e deixou a confusão no ar, até os ventos do novo ano.
Depois de lançar o terceiro Plano
Nacional de Direitos Humanos,
com ex-militantes de esquerda
emocionados e Dilma chorando, Lula não tem ambiente político para revogar trechos do texto, como
exigem Jobim e militares.
Eles reclamam que são parte diretamente interessada e que todas
as suas sugestões foram ignoradas,
produzindo um texto "desequilibrado" -que cobra todas as responsabilidades da área militar da ditadura e nenhuma dos seus opositores, entre eles os próprios Dilma,
Tarso e Vannuchi. Como se a guerra
continuasse, mas com um lado só armado. E não é o lado militar. Cobrado por Jobim, Lula disse o
de sempre: assinou o decreto, mas não viu, não leu e não sabia de nada.
Andava muito ocupado com Copenhague. Mas, como é contra revanchismo, tomaria uma atitude.
Lula disse e Jobim reproduziu
para os comandantes de Exército,
Marinha e Aeronáutica, que entenderam como uma decisão de mudar
o texto. Entenderam errado. Lula
não vai revogar uma vírgula, só pretende esvaziar os tópicos críticos na implementação do plano.
O seguro morreu de velho, e um
oficial adverte que "intenções são
intenções, e o que vale é o que está escrito". Ou seja, o plano.
O risco é que, na hipótese de vitória de Dilma em 2010, em vez de negociarem com Lula e tendo o marechal Jobim como ministro, os militares vão ter que engolir a "ex-guerrilheira" (como dizem), tendo um
petista qualquer na Defesa.
Lula viajou, mas a crise continua.
No mínimo, a crise de desconfiança
de lado a lado, com Jobim louco para jogar o quepe e tirar a farda.
elianec@uol.com.br
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