São Paulo, quinta, 31 de dezembro de 1998

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DESENVOLVIMENTO TÍMIDO

Não era esperado, nem seria aceitável, que a criação de um ministério encarregado de estimular o desenvolvimento implicasse conflito aberto a respeito da orientação da política econômica do país. A bem da verdade, a definição clara de políticas de apoio à produção, exportação e renovação tecnológica seria mais importante do que a criação desta ou daquela pasta ministerial.
Mas, até agora, o debate sobre o assunto esteve restrito a uma folclórica oposição entre desenvolvimentistas e monetaristas e à discussão política. Mesmo após a indicação de Celso Lafer, a intenção do presidente de atentar para a produção não ganhou contornos mais concretos. Aliás, depois das primeiras declarações do recém-nomeado ministro, esfumaram-se um pouco as perspectivas mais imediatas de criação de um projeto definido de desenvolvimento.
Como se dizia, não se esperava do novo ministro, que ademais só agora vai tomar pé da situação, o anúncio de radicais reorientações econômicas. Mas as declarações de Lafer dão a impressão de que a nova pasta talvez venha a carecer demasiadamente de autonomia; que o impulso renovador que ela poderia trazer seja limitado além do desejável pelas autoridades que até agora predominaram na definição da política econômica.
Talvez seja desejo do presidente realizar lentas correções marginais no programa econômico, dando mais prevalência a áreas descuradas no primeiro mandato -a política industrial ou comercial. Talvez o presidente esteja limitado por conveniências políticas ou obstáculos práticos. Na verdade, dada a situação atual de crise aguda e de falta de um projeto de desenvolvimento, nem seriam possíveis, agora, grandes vôos.
Mas preocupa que a aparente falta de autonomia do novo ministério limite a elaboração de um projeto de fôlego para reformular o padrão de desenvolvimento brasileiro, o que foi deixado de lado e é, a médio prazo, uma ameaça para a presente tentativa de reforma da economia do país.



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