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Se houvesse coragem
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - Terminou o primeiro
mandato de um presidente que prometeu, no discurso de posse, adotar
como prioridade absoluta o combate à
miséria e à desigualdade social.
Como ficamos?
"Embora no período 1996-1997 os índices de pobreza sejam menores do
que os observados em 1994, continuam superiores aos índices coletados
em 1993. Registra-se uma evolução similar no caso dos indicadores relativos à distribuição de renda", respondem Atila Roque e Sonia Corrêa, ambos do Ibase, a ONG que ficou mais
conhecida como o Instituto do Betinho, o sociólogo Herbert de Souza.
Os dois estudiosos coincidem com
Fernando Henrique Cardoso quando
dizem que "o Brasil não é um país pobre" (o presidente vive insistindo que
o Brasil não é um país subdesenvolvido; é apenas injusto).
Roque e Corrêa põem números nessa
avaliação: "Mais de 75% da população mundial vive em países com uma
renda "per capita' inferior à do Brasil". Mais: "O país atingiu um nível de
renda "per capita' média que permitiria a implementação de políticas redistributivas sem maiores custos em
termos de crescimento econômico".
Conclusão inexorável: "Estão disponíveis os recursos para erradicar a pobreza absoluta no país. É no campo da
política, portanto, que o problema se
situa: estratégia e vontade".
Claro que sempre é mais fácil falar
que fazer, nesse terreno até mais que
em muitos outros.
Se FHC pouco faz, ou é por falta de
estratégia ou por falta de coragem para enfrentar os donos do dinheiro. No
Brasil, o estudo de Roque e Corrêa sugere não haver alternativa que não seja a aplicação de alguma política à
Robin Hood.
Afinal, "a desigualdade que se verifica nos 80% da população que não são
muitos ricos é equivalente àquela observada em outros países, como os
EUA", dizem. O problema está na "elevadíssima renda média dos mais ricos". É a única, a rigor, passível de redistribuição. Se houvesse coragem.
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