São Paulo, quinta, 31 de dezembro de 1998

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Se houvesse coragem

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Terminou o primeiro mandato de um presidente que prometeu, no discurso de posse, adotar como prioridade absoluta o combate à miséria e à desigualdade social.
Como ficamos?
"Embora no período 1996-1997 os índices de pobreza sejam menores do que os observados em 1994, continuam superiores aos índices coletados em 1993. Registra-se uma evolução similar no caso dos indicadores relativos à distribuição de renda", respondem Atila Roque e Sonia Corrêa, ambos do Ibase, a ONG que ficou mais conhecida como o Instituto do Betinho, o sociólogo Herbert de Souza.
Os dois estudiosos coincidem com Fernando Henrique Cardoso quando dizem que "o Brasil não é um país pobre" (o presidente vive insistindo que o Brasil não é um país subdesenvolvido; é apenas injusto).
Roque e Corrêa põem números nessa avaliação: "Mais de 75% da população mundial vive em países com uma renda "per capita' inferior à do Brasil". Mais: "O país atingiu um nível de renda "per capita' média que permitiria a implementação de políticas redistributivas sem maiores custos em termos de crescimento econômico".
Conclusão inexorável: "Estão disponíveis os recursos para erradicar a pobreza absoluta no país. É no campo da política, portanto, que o problema se situa: estratégia e vontade".
Claro que sempre é mais fácil falar que fazer, nesse terreno até mais que em muitos outros.
Se FHC pouco faz, ou é por falta de estratégia ou por falta de coragem para enfrentar os donos do dinheiro. No Brasil, o estudo de Roque e Corrêa sugere não haver alternativa que não seja a aplicação de alguma política à Robin Hood.
Afinal, "a desigualdade que se verifica nos 80% da população que não são muitos ricos é equivalente àquela observada em outros países, como os EUA", dizem. O problema está na "elevadíssima renda média dos mais ricos". É a única, a rigor, passível de redistribuição. Se houvesse coragem.



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