São Paulo, quinta, 31 de dezembro de 1998

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Muita onça e vara curta

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Fernando Henrique Cardoso vem comprando briga com empresários, trabalhadores, confederações, sem-terra e militares. Parece briga demais para um presidente só. E um presidente que não apenas acaba um mandato hoje, mas principalmente começa outro amanhã.
FHC vem irritando os empresários há muito tempo, com a teimosia da sobrevalorização cambial e dos juros sempre na estratosfera.
Continua irritando, com a perspectiva de recessão, de aumento de CPMF e de criação de imposto sobre a gasolina. Agora, mais essa: novas garfadas para 1999, via impostos.
Não bastasse, FHC pisou na bola ao romper acordos feitos desde novembro e impor diretores para o Sebrae -o Serviço de Pequenas e Médias Empresas-, que, a bem da verdade, sobrevive graças ao setor privado.
Ao acenar com um 99 recessivo, o presidente também está provocando os trabalhadores organizados. Eles andam quietos desde o "chega pra lá' nos petroleiros, no início do primeiro mandato, mas dificilmente vão continuar boiando diante da onda de desemprego que vem por aí.
Agora, para completar os desafios presidenciais, que já não são poucos, FHC resolve esticar as duas pontas do processo político: os sem-terra, que reencarnam os comedores de criancinhas das décadas passadas, e os militares, que -esses sim- têm poder de fogo literal e sabem usá-lo.
Os sem-terra perdem mais um pouco das magras verbas que têm, vão ficar gradativamente sem o Incra e, afinal, vão continuar sem terra mesmo.
E os militares? Bem. Eles mastigam a contragosto o Ministério da Defesa e não engolem a escolha de Elcio Alvares, um político derrotado, para chefiá-los. Tampouco digerem a autonomia da aviação civil.
Um dos erros do presidente é tentar agradar sempre o PFL, o PMDB, o PTB, o PPB e o PSDB, por conta de ajustes que nunca ajustam, de cortes que nunca cortam.
Talvez fosse melhor agradar aos que realmente interessam. Como os que produzem bens, empregos e paz, por exemplo. Melhor e mais prudente.



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