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Análise / Presidência

Novo ano de governo dirá se discurso contra malfeito vale na prática

Dilma encontrou fórmula desejada por políticos: ao mesmo tempo em que condena a corrupção, acomoda seus aliados

FERNANDO RODRIGUES
DE BRASÍLIA

A presidente Dilma falou acima do seu tom usual quando se trata de separar os interesses de partidos políticos dos da administração federal. Ainda assim ela manteve uma dose de ambiguidade.

Cercada pela maior coalizão partidária pós-ditadura militar (1964-1985), Dilma precisa atender aos desejos de 15 agremiações políticas.

Mas, no encontro de fim de ano com jornalistas, declarou que a ingerência dos aliados não será aceita dentro dos ministérios. E foi além: "Vale para qualquer partido". Siglas podem sugerir nomes, mas "a partir da indicação, [o indicado] presta contas ao governo e a mais ninguém."

Ao dizer que terá "tolerância zero" com malfeitos, Dilma embutiu em seguida uma frase na forma adversativa: "[Mas] eu não posso sair por aí apedrejando as pessoas e fazendo julgamento sem direito de defesa. [] Não tolerar malfeito de um lado, mas não vou criar caça às bruxas".

Se o exercício da Presidência fosse um videogame, Dilma estaria agora passando de fase. Entrará no seu segundo ano de mandato. As cobranças aumentam. Não vai mais colar a eventual desculpa de que herdou uma estrutura mal ajambrada de Lula.

Assim como em joguinhos digitais, a cada nova etapa as dificuldades crescem. No caso de Dilma, a forma de governar continuará igual, mas ela terá de estar mais atenta a cada manobra.

Chefe da mais bem avaliada administração presidencial num primeiro ano de mandato, Dilma encontrou uma fórmula perseguida por todos os políticos.

Tem um discurso para consumo externo de intolerância com a corrupção e age na vida real acomodando os interesses. É uma alquimia arriscada, pois uma calibragem mal feita pode resultar na quebra do encanto.

Quando um ministro é demitido, o eleitor de Dilma tem duas opções como reação. Primeiro, "que bom, a presidente está mandando embora essa turma que só atrapalha ou é corrupta". O segundo raciocínio é menos popular: "Por que Dilma deu emprego a gente ineficaz?".

De 2012 em diante, a presidente dá a entender que reforçará a imagem de que não compactua com os desvios de conduta. No discurso, ela já fez a calibragem. Se haverá o mesmo ajuste fino na prática, só será possível saber mais adiante.

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