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Análise

Dilma assume risco político evitado por seus antecessores

FERNANDO RODRIGUES
DE BRASÍLIA

A presidente Dilma Rousseff assume um risco político conhecido e calculado ao modificar as regras da mais popular aplicação financeira no Brasil. Presidente que "mexe na poupança" conhece o espectro que ronda esse tema desde o confisco realizado em março de 1990, há 22 anos, quando Fernando Collor de Mello assumiu o Palácio do Planalto.

Collor desfrutou de uma euforia inicial da população pela sensação ilusória do fim da inflação. Mas o apoio político ao então presidente só diminuiu nos meses seguintes. Sofreu o impeachment com menos de três anos de governo -o país estava mergulhado numa crise econômica e Collor enredado em acusações de corrupção.

Os outros presidentes da República, cada um do seu jeito, discutiram formas de alterar o rendimento da caderneta de poupança. Ninguém teve coragem de ir adiante.

Quem mais se aproximou do que Dilma Rousseff faz agora foi seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva.

Em 2009, em meio à crise financeira internacional, o petista sinalizou com uma mexida na poupança. Recuou imediatamente assim que a frágil oposição da época foi à TV e o acusou de tramar um "confisco". Há diferenças, entretanto, entre os cenários do passado e o hoje desfrutado por Dilma.

A taxa de popularidade de Lula em 2009 estava em trajetória ascendente. Só que a economia era uma incógnita. Não estava claro ainda qual seria o efeito da crise internacional, iniciada no ano anterior com a quebra do banco Lehman Brothers, nos Estados Unidos. O petista corria o risco de sair da zona de conforto em que estava. Preferiu deixar tudo no mesmo lugar.

OUTRA SITUAÇÃO

A situação de Dilma Rousseff é outra. Ela também está com sua popularidade em viés de alta. A diferença é o estado da economia. Tudo indica que os brasileiros terão um Natal neste ano mais próspero que o de 2011. Ou seja, se há um momento para queimar capital político mexendo na poupança, a hora é agora.

O gradualismo adotado por Dilma também minimiza o seu desgaste. Quem tinha dinheiro aplicado até ontem não será prejudicado. E a partir de agora, só haverá rendimento menor quando a taxa de juros oficial ficar igual ou abaixo de 8,5% (está no momento em 9%).

O próximo passo é a disputa política de versões com a oposição. A expectativa do governo é que os "efeitos político-psicológicos", expressão ouvida ontem pela Folha, sejam de curta duração. O impacto negativo será eliminado, no desejo do Planalto, quando o benefício de juros mais baixos se espalhar pela população.

Na dúvida, Dilma não se arriscará a ser a cara dessa mexida na poupança. Ela não fará pronunciamento à nação. Deixou o desgaste para seus ministros e técnicos da área econômica.

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