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Análise Governo menosprezou a magnitude da crise externa SIDNEI MOURA NEHMEESPECIAL PARA A FOLHA O preço da moeda americana chegou a R$ 2,00 e pode ir um pouco além. Raras projeções ousavam prognósticos desta magnitude no início do ano: a grande maioria ainda via o Brasil como uma "ilha" no universo em crise. Criamos metáforas ("enxurrada", "tsunami") para justificar o real apreciado. Culpamos as economias desenvolvidas pelas nossa prática de incentivar a apreciação do real, fazendo-o coadjuvante do juro para conter as pressões inflacionárias. Nunca foi o fluxo cambial que determinou a apreciação do real: o mercado de câmbio tem sutilezas e estratégias nem sempre perceptíveis. O governo sabia como desmontar o elemento formador da tendência e inibiu com tributos o mercado de derivativos. O PIB nanico de 2011 e a radiografia da indústria estagnada provocaram o choque com a realidade. Elevar o preço do dólar foi o foco imediato para evitar críticas sobre a falta de reformas estruturais. Viu-se então uma "enxurrada" de dólares e fechamos as portas dos ingressos de recursos externos. Houve a mudança da perspectiva do mercado. E o dólar não cai mais! Menosprezamos a crise internacional, que leva investidores a postergar investimentos, priorizando liquidez e segurança. O Brasil perde brilho: os fluxos de recursos tendem à retração e podemos passar da "enxurrada" à "ressaca". Ficamos em dúvida se o fluxo cambial será suficiente para financiar nosso deficit em transações correntes. A perspectiva é que fomenta a alta do dólar. E ela não é confortável. Dólar a R$ 2,00 já preocupa o ministro Mantega, que naturalmente sinaliza o contrário por razões óbvias, porque veio antes do tempo -antes que a inflação desse sinais firmes de queda. E se tivermos que mexer nas normas restritivas ou se o BC tiver que vender dólares? Qual será a repercussão na comunidade internacional? SIDNEI MOURA NEHME, economista, é diretor da NGO Corretora de Câmbio Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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