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Análise

Serra luta para se livrar da síndrome de Ulysses, estigmatizado por ser 'o velho'

FERNANDO RODRIGUES
DE SÃO PAULO

O momento e o Brasil são outros, mas a disputa paulistana atual guarda uma semelhança com a corrida presidencial de 1989: muitos candidatos querendo se apresentar como "o novo" e um deles sendo malhado por ser "o velho".

Em tempos de politicamente correto, ninguém ousou ontem na TV classificar José Serra de velho. Mas houve frases indiretas a respeito do candidato do PSDB e de seus 70 anos -dois a menos do que os 72 de Ulysses Guimarães, em 1989, quando disputava o Planalto pelo PMDB.

Assim como o tucano, Ulysses era o favorito antes de o processo eleitoral deslanchar. Em 1988, se o Brasil tivesse eleição para imperador, ele teria vencido no primeiro turno. Tinha sido o condutor do Congresso constituinte e o fiador da volta da democracia.

Os ventos mudaram em meados de 1989. Uma enxurrada de candidatos mais jovens começou a falar em renovar a política: Luiz Inácio Lula da Silva, então com 44 anos, Mário Covas, 59, Guilherme Afif, 46, e Fernando Collor, 40.

Era constrangedor o esforço de Ulysses para tentar compensar a "desvantagem" da idade. Vendia-se como experiente. Seu jingle de campanha propunha: "Bote fé no velhinho". Não deu certo.

Os marqueteiros do candidato usaram uma técnica então avançadíssima para os anos 80. Retocaram eletronicamente, no computador, o rosto de Ulysses em fotos de campanha.

Ulysses quis ser o que não era. Protagonizou uma campanha melancólica. Acabou em 7º lugar na eleição, com 4,4% dos votos em 1989 -apesar de ter despontado como favorito em 1988.

Com Serra o cenário é um pouco diverso, embora ele seja alvo das mesmas insinuações geracionais desfechadas contra Ulysses. Ontem, na TV, Fernando Haddad, 50, fez um programa peripatético (falando e andando) para demonstrar vigor. Apresentou-se como o "novo" e com "energia nova". Gabriel Chalita, 43, e Celso Russomanno, 56, foram mais sutis, mas a juventude de ambos passava a mesma mensagem.

A foto com maquiagem eletrônica de Ulysses em 1989 é o passeio de José Serra de bicicleta na abertura da propaganda do tucano ontem na TV. Ou a tentativa do tucano de andar num skate há algumas semanas.

O candidato do PSDB perde se fingir o que não é (ter 50 anos). Ontem ele disse ter "vontade, vigor, garra". Pareceu sincero. Só que em seguida veio o jingle "eu quero tchu, eu quero tchá, eu quero Serra já". Alguém acredita que o tucano aprecie esse tipo de gênero musical?

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