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Análise

Voto de Cármen Lúcia dá munição para tucanos contra Lula

VALDO CRUZ
DE BRASÍLIA

No dia em que o STF registrou na história que o mensalão foi um esquema articulado dentro do Palácio do Planalto, ao condenar José Dirceu por corrupção ativa, o tom político da sessão foi dado pela ministra Cármen Lúcia.

Seu alvo principal nem foi o ex-chefe da Casa Civil, mas o ex-tesoureiro petista Delúbio Soares e, por tabela, o ex-presidente Lula -quando criticou, de forma indignada, os defensores da tese que limita o mensalão a um crime de caixa dois.

Cármen Lúcia disse ter sentido "profundo desconforto" quando Delúbio assumiu diante do STF a prática de caixa dois. "Acho estranho e grave que uma pessoa diga 'houve caixa dois'. Ora, caixa dois é crime, é uma agressão à sociedade brasileira", afirmou.

O voto da ministra, apesar de tratar de tese já considerada vencida pelo próprio STF, dá munição aos tucanos no seu trabalho de desgastar Lula, o principal articulador da candidatura do petista Fernando Haddad em São Paulo.

O Supremo já decidiu que o mensalão foi um esquema de compra de apoio no Congresso, e não de caixa dois eleitoral, mas o argumento ainda é usado por Lula e petistas, que classificam o julgamento de político e não técnico.

Daí que, ao proferir seu voto condenando não só José Dirceu mas também Delúbio e José Genoino, Cármen Lúcia fez questão de desqualificar os argumentos dos réus.

"E isso [admitir caixa dois] não é pouco. Me parece grave, porque parece que ilícito no Brasil pode ser realizado e tudo bem", afirmou a ministra, indicada ao STF por Lula.

O tom político de Cármen Lúcia não foi o único dissabor petista no julgamento de ontem. O último voto do dia, dado pelo ministro Marco Aurélio, não só definiu o placar pela condenação de Dirceu como ressaltou a ligação do governo ao mensalão.

"As reuniões, pasmem, ocorriam no Palácio do Planalto", disse Marco Aurélio ao lembrar trechos de depoimentos de aliados do governo Lula revelando que as reuniões para tratar do tema não ocorriam nas sedes dos partidos, mas na do Executivo federal.

Indicado pelo ex-presidente Collor, Marco Aurélio não deixou ainda de dar uma alfinetada indireta em Lula, que se disse traído. "No Brasil há essa prática de nada se saber", afirmou o ministro, que classificou o mensalão de "lamentável episódio".

Restou ao PT se contentar com o voto vencido de Dias Toffoli pela absolvição de Dirceu, mas que surpreendeu ao votar pela condenação de Genoino.

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