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Alexandra Moraes

Uniformes

As propostas de José Serra e Fernando Haddad são, no geral, parecidas; o que os separa são seus rótulos

UNIFORMIZADOS PARA o debate: gravata vermelha, camisa clara, terno cinza. Uniformizados para o horário eleitoral: camisa escura para ataque, camisa clara para a imagem do homem que faz.

As roupas dos candidatos a prefeito de São Paulo acabaram denotando muito do que se constatou em relação às propostas de ambos -são, no geral, muito parecidas.

O que separa José Serra e Fernando Haddad são os seus às vezes muito caros, às vezes desgraçados, rótulos, que exigem mais que a marquetagem imediata do guarda-roupa: o "mais experiente" x o "poste/novo", o "do povo" x o "da elite".

Serra, associado pela propaganda petista e pela própria votação à "elite", aponta o dedo com mais frequência e é mais hábil em tentar desmerecer o que se lhe apresenta como adversário (político ou não).

O resultado é o ar arrogante que pode ter dado impulso a decisões como abandonar mandatos e cujo rastro surge nas pesquisas. E o ar vai à ponta dos dedos na hora do debate, porque Serra aponta até quando é para dar notícia boa: "Você, que está no trem", "você, que mora em Sapopemba", diz no debate SBT/UOL, com dedo em riste e tom acusatório, embora estivesse apenas prevendo melhoria. "Você, que mora na Vila Sônia", chama, com três dedos em formato de revolvinho. "Você, que mora em Santo Amaro", e então abre as mãos, perfazendo uma espécie de manual do transporte coletivo.

Já Haddad aproveita a maré a seu favor para exercitar a ironia: "Pergunto de enchente e vem falar de um tal de Bilhete Amigão". Despreza o tucano e ainda dá um sorrisinho de canto de boca. Mal consegue esconder o orgulho pelo triunfo retórico.

Tosse, engasga aqui e ali, "o nargo", "o narcotraficante", mas, bem ensaiado, lança um empostado e altivo "Alto lá!" quando sobrevoado pelo fantasma do mensalão.

Na reta final, as campanhas podem contar seus louros. Conseguiram dar sobrevida à "polarização PT-PSDB" com a briga do poste de Lula com o sapato voador dos tucanos numa disputa que, se não foi exatamente de alto nível, animou as torcidas como se realmente houvesse um abismo entre elas.

COLUNISTAS NAS ELEIÇÕES segunda: André Singer; terça: Nelson de Sá; quarta: Vera Magalhães; quinta: Alexandra Moraes; sexta: Eduardo Graeff; sábado: Leandro Machado/Leandro Narloch; domingo: Mauro Paulino

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