São Paulo, quinta-feira, 02 de junho de 2011 |
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ANÁLISE Mortes têm origem na ausência do Estado durante expansão agrícola na Amazônia OSCAR PILAGALLO ESPECIAL PARA A FOLHA A situação das famílias assentadas em áreas rurais do Pará, expostas à violência, tem origem na atuação de governos consecutivos, que estimularam a expansão da fronteira agrícola para áreas onde o Estado é ausente. Até os anos 60, a Amazônia vivia basicamente do extrativismo. Houve o ciclo da borracha, no fim do século 19 e início do 20, e, mais tarde, de 1920 a 1970, a castanha se destacou na economia local. Foi só nos anos 70, quando os militares decidiram colonizar a Amazônia, que um fluxo migratório levou ao Pará e a outros Estados agricultores cujos descendentes agora enfrentam a violência. O governo Médici pretendeu atingir objetivos sociais e geopolíticos. Tratava-se de redirecionar a imigração de nordestinos, anteriormente voltada para os já saturados Sul e Sudeste, e ocupar uma região supostamente cobiçada por estrangeiros. Os trabalhadores nordestinos foram seduzidos por incentivos e por um discurso otimista. Ganharam terras cuja qualidade, assegurava-se, era equivalente à das terras férteis de São Paulo. A propaganda dizia: "Homens sem terra para terra sem homens". A ideia central era substituir grande parte da floresta por pastos e campos de agricultura. A realidade que os nordestinos lá encontraram, no entanto, foi diferente. O solo era inadequado e os novos colonos pouco receberam além de pequenas glebas. Sem tecnologia e recursos, não conseguiram viabilizar a agricultura. Deixaram terrenos, mas muitos ficaram, sem condições de voltar. São os filhos e netos dessa geração que hoje, isolados em precários assentamentos, assistem a conflitos de interesses econômicos que estão por trás dos assassinatos. Os militares deixaram o poder em 1985, sem resolver os problemas. Os governos subsequentes também pouco fizeram de concreto, a ponto de hoje o Estado reconhecer ser incapaz de oferecer proteção à lista dos trabalhadores rurais que são ameaçados de morte. OSCAR PILAGALLO, jornalista, é autor de "A História do Brasil no Século 20" (Publifolha). Texto Anterior: Minha História - Geruza Alves de Almeida, 52: 'Tenho medo de morrer' Próximo Texto: Leis que dão incentivos fiscais são ilegais, diz STF Índice | Comunicar Erros |
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