São Paulo, sábado, 02 de outubro de 2010

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Gravação indica fraude em Campo Grande

Em vídeo, vereadores de Dourados detalham esquema e dizem cobrar menos propina que a Câmara da capital

Infiltrado da PF diz não ter prova de ato ilícito; presidente da Casa nega irregularidades e prefeitura não comenta

RODRIGO VARGAS
DE CUIABÁ

Em conversa gravada pela Polícia Federal no dia 7 de junho, dois vereadores da Câmara de Dourados explicam como funcionava um suposto desvio de verbas da prefeitura e ainda asseguram cobrar menos propina que a Câmara de Campo Grande (MS).
"É assim, ó: 30% para nós, 20% de nota e 50% é de vocês, fica na prefeitura", diz o então presidente da Casa, Sidlei Alves (DEM), em conversa da qual participaram o secretário Eleandro Passaia, agindo como infiltrado da PF, e o vereador Humberto Teixeira Junior (PDT), primeiro-secretário da Câmara.
Em um trecho, Passaia diz que 30% "é muito", ao que Teixeira Júnior responde: "O Paulo Siufi [presidente da Câmara da capital e ex-líder do PMDB] com o prefeito de Campo Grande [Nelson Trad Filho, do PMDB] devolve 50% todo mês".
A Prefeitura de Dourados repassava R$ 1 milhão mensal como duodécimo (recurso para custear as despesas do Legislativo municipal) à Câmara. Do total, segundo a Folha apurou, R$ 400 mil eram devolvidos mensalmente à prefeitura.
Por meio de notas fiscais frias, 30% deste valor era "lavado" e, segundo as investigações, revertido aos vereadores da cúpula -responsáveis, segundo o Ministério Público, pela distribuição do suposto "mensalão".
Na denúncia, a Promotoria diz que o então presidente da Câmara era o "mais voraz" dos vereadores suspeitos e que Teixeira Júnior "envolveu-se profundamente na trama criminosa".
Eleandro Passaia, em entrevista à Folha ontem, reafirmou o teor do diálogo, mas ressaltou que não tem indícios de que a menção a Campo Grande tenha fundamento. "Não sei até que ponto eles não estavam apenas tentando me impressionar".

OUTRO LADO
O presidente da Câmara Municipal de Campo Grande, Paulo Siufi (PMDB), disse ontem que "desconhece" as afirmações contidas no diálogo gravado pela Polícia Federal, mas ressaltou que "se existirem, os responsáveis serão incriminados".
Segundo ele, o repasse do duodécimo é "constitucional" e a devolução de eventuais sobras, "obrigatória". A Prefeitura de Campo Grande disse, por meio de sua assessoria, que não irá comentar enquanto não houver uma investigação oficial.
O advogado João Arnar, que representa o vereador Sidlei Alves, negou irregularidades, mas disse que não pode comentar informações sob segredo de Justiça.
Aílton Garcia, advogado do vereador Humberto Teixeira Junior, disse que só vai se manifestar após ter acesso à integra do processo.


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