São Paulo, sábado, 02 de outubro de 2010

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JONATHAN WHEATLEY

Vitória no 1º ou no 2º turno?


Um mandato forte será imprescindível -daí a importância para Dilma de vitória no primeiro turno

UM SEGUNDO turno parece ser saudável para a democracia. Abre espaço para dois candidatos exporem seus programas de governo algo que mal aconteceu nesta eleição e poderia, para quem tem medo de um governo Dilma de salto alto, controlar os instintos mais "estadistas" do Partido dos Trabalhadores.
Essa, pelo menos, é uma opinião que ouvi várias vezes durante esta semana, enquanto as pesquisas começaram a sinalizar a possibilidade, antes remota, de a eleição não ser decidida neste domingo.
Reflete a frustração evidente entre muitos empresários com a falta de propostas do PSDB. É de lá, argumentam, que deve vir a promoção de um programa liberal de governo, começado por Fernando Henrique Cardoso e abandonado tanto pelo governo quanto pela oposição desde 2002.
Um segundo turno, acreditam, seria mais uma chance para resgatar esse programa. Duvido muito. E, mais ainda, creio que uma vitória já neste domingo seria o melhor resultado para quem acredita em propostas liberais.
Tenho poucas dúvidas de que Dilma, pessoalmente e politicamente, acredita no poder benéfico de um Estado forte. Acredito que Lula compartilha das mesmas opiniões, assim como, me parece, uma grande parcela da população brasileira.
Mas Lula tem se revelado, acima de tudo, uma pessoa pragmática. A estabilidade da economia, tão valorizada mesmo por quem nunca pensou no assunto, é uma preciosidade com a qual não se brinca. E tem de ser não somente preservada mas também constantemente nutrida.
Este governo, de fato, tem mostrado uma tendência estatizante, para dizer o mínimo: o fortalecimento do Estado dentro da Petrobras é só um exemplo. Mas, ao mesmo tempo, manteve Henrique Meirelles deputado federal eleito pelo PSDB no Banco Central durante oito anos, a despeito de duras críticas de todos os lados.
Lula se mostrou muito hábil no equilíbrio dessas forças. Dilma, que poucos acreditam ter a mesma habilidade, precisará de muita força política para proteger a ortodoxia econômica em um ambiente provavelmente mais hostil do aquele que Lula teve que tourear. Um mandato forte será imprescindível -daí a importância para ela de uma vitória no primeiro turno.


JONATHAN WHEATLEY é correspondente do jornal "Financial Times" no Brasil.


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