São Paulo, domingo, 03 de julho de 2011

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Dilma estende rigor à imagem do governo

No Planalto, solenidades se tornaram mais formais e seguranças agora abordam repórteres que conversam com fontes

Jornalista que atuou com Lula avalia que relação do governo com a mídia melhorou, mas que comunicação é ruim


NELSON DE SÁ
ARTICULISTA DA FOLHA

Há duas semanas, a presidente Dilma Rousseff, diante da notícia de que estava rompida com o presidente da Câmara, Marco Maia, surgiu no Palácio do Planalto de braço dado com o deputado, foi aos repórteres e ironizou: "Nós, os brigados". Saiu sem dar chance para perguntas.
Ao fechar seis meses no poder, ela é vista por jornalistas como "control freak", obcecada pelo controle da mensagem que sai do governo. Embora tenha dado até mais entrevistas que Lula, no início de seu primeiro governo, só fala com alvo certo -como fez ao defender a política econômica, no "Valor", quando a inflação assustou.
No Planalto, o rigor é sentido em toda parte. As solenidades se tornaram mais formais, sem vaivém de assessores, e seguranças passaram a abordar repórteres que conversam com fontes nos corredores e elevadores.
No dia a dia, até a análise de mídia que Dilma recebe toda manhã é agora um texto frio, sem a carga ideológica revelada no governo Lula. "Aqui não, não é uma coisa, assim, política", diz Helena Chagas, ministra da Comunicação Social. "O que recebe é feito por profissionais."
Helena, que já foi repórter no palácio, confirma que os eventos "têm sido bastante organizados por aqui". Mas não seria controle, "ela quer quer as mensagens que saem do governo sejam reproduzidas com fidelidade".
O jornalista Ricardo Kotscho, que cumpriu função semelhante sob Lula, avalia que Dilma "melhorou a relação com a imprensa, mas a comunicação está muito ruim". Cita o caso do sigilo dos documentos secretos: "O governo faz uma coisa, depois diz que ninguém entendeu, faz outra, aí volta atrás, não há uma voz para explicar o que está acontecendo".
Diz não ser tarefa da Secretaria de Comunicação Social. "Só a presidente pode fazer. Ela não é o Lula, mas tem de aparecer mais, clarear. Precisa se comunicar mais."
O embaixador Sérgio Amaral, porta-voz de Fernando Henrique Cardoso, acredita que "a comunicação é muito da personalidade do presidente e não se deve falsificar a imagem, querendo dirigi-lo". FHC falava bastante com a imprensa, "mas buscava se preservar", daí seu papel:
"Eu dava à imprensa um volume de informação e dava a opinião do presidente. No governo Lula, como Lula tem uma relação muito especial com a população, ele falava muito. E a função foi sendo reduzida. Com a Dilma, o modelo ainda não se definiu."

FALSA IMPRESSÃO
Helena Chagas diz que "as pessoas tendem a comparar Dilma com os últimos meses de Lula", o que deixa uma falsa impressão. Mauro Paulino, diretor do Datafolha, anota que Lula saiu com 86% de aprovação; já Dilma tem agora 49%. "Mas ele, no final do primeiro semestre do primeiro governo, tinha 41%."
Paulino sublinha que a presidente começa a enfrentar problemas próprios. Na pesquisa dos dias 9 e 10 de junho, Dilma viu cair sua imagem de "decidida", de 79%, em março, para 62%. E o problema não é a comunicação. "À medida que chega no bolso, principalmente dos que ascenderam, aí Dilma começa a ter dificuldades."
Em análise da consultoria de segurança estratégica Eurasia, Christopher Garman também cita a pesquisa para dizer que ela superou os desafios políticos dos primeiros seis meses, "mas o mesmo Datafolha descobriu que os que acreditam que seu poder de compra vai aumentar caíram de 43% para 33%".
Pressionada pelos primeiros números negativos e aconselhada por assessores, no último mês Dilma passou a sair mais em viagens.
No próprio palácio, o governo iniciou uma abertura. A ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffman, foi nesta semana ao comitê de imprensa. E a nova ministra da articulação política, Ideli Salvati, tem ocupado quase diariamente o papel de porta-voz.
E Helena diz que Dilma vai retomar a ideia, "da presidenta", de realizar encontros informais com jornalistas.


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