São Paulo, quarta-feira, 05 de outubro de 2011

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ANÁLISE

Economia roda em duas velocidades, mas marcha lenta tende a predominar

TONY VOLPON
ESPECIAL PARA A FOLHA

A divulgação da produção industrial de agosto confirma o atual padrão da economia brasileira, que parece rodar "em duas velocidades".
De um lado, temos a economia do consumo, do mercado de trabalho e do crédito. Sob esse aspecto, o país vai bastante bem: as vendas ao varejo de julho subiram mais de 7,1% ao ano; a taxa de desemprego bate as mínimas históricas, de 6%; e o crédito total cresce 19,4% ao ano apesar da alta dos juros e de medidas macroprudenciais.
Mas, do outro lado, temos a indústria. Assistimos a uma estagnação: em um ano, o crescimento está na casa de 1,8%. O nível da produção industrial está no mesmo patamar desde março de 2010.
Por que esse padrão tão distinto entre a indústria e o resto da economia? Há várias razões: de um lado, a forte alta do real em relação a outras moedas faz com que as importações fiquem mais baratas e esses produtos ficam mais atraentes. Assim, grande parte do consumo brasileiro é atendida por indústrias localizadas fora do país.
Mas isso não explica tudo, até porque o Brasil trabalha com muitas restrições a importações. Também temos de debitar a falta de competitividade ao aumento do custo da mão de obra (e a política de atrelar o reajuste do salário mínimo ao PIB não ajuda).
A indústria enfrenta ainda uma carga tributária alta e a falta de infraestrutura adequada. Em resumo, a falta de competitividade vai além da questão cambial. Mas, entendendo que a questão cambial é crucial, a alta recente do dólar pode ajudar a indústria?
Infelizmente, enquanto a alta do dólar devolve à indústria alguma competitividade, os efeitos da crise diminuem a demanda, e os preços das nossas exportações caem.
No caso brasileiro, há uma relação estreita entre riqueza (e portanto consumo) e os termos de troca, ou seja, a relação entre os preços das nossas exportações contra as importações. Com a queda no valor de produtos básicos, o Brasil fica mais pobre, pois o valor das exportações cai.
No caso, apesar da alta do dólar, vamos assistir à queda do consumo. A economia deixa de correr em duas velocidades, mas em compensação assume a marcha mais lenta.

TONY VOLPON é analista do Nomura Securities.


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