São Paulo, sexta-feira, 07 de janeiro de 2011

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ANÁLISE

"Ciúme" dos próprios informes pode dificultar cooperação

RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO

Não será nada fácil coordenar a luta contra as drogas na América Latina entre organizações de vários países, com métodos, agendas e meios muito diferentes.
O Departamento de Defesa dos EUA define operações "combinadas" como as que envolvem forças e agências de dois ou mais países aliados, e "conjuntas" como as envolvendo duas ou mais organizações militares (Exército, Marinha etc.). São, notoriamente, as mais difíceis de serem realizadas, como mostra a história das alianças militares em guerras.
Mas são essenciais no combate contra três pragas modernas muito disseminadas -crime organizado, insurgência, terrorismo. Ou as três juntas, como é o caso das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
Mesmo existindo a maior vontade possível de cooperação entre os agentes no campo, seus superiores -mais especificamente, seus governantes- têm diferenças ideológicas importantes, que tendem a se refletir na área operacional.
A área de atuação é vasta e as fronteiras são porosas. Traficantes literalmente transportam suas cargas por terra, mar e ar (no caso dos narcotraficantes colombianos, até em minissubmarinos). Quando uma dessas rotas sofre interdições, as outras passam a ser reforçadas. Por exemplo, o melhor patrulhamento aéreo da Amazônia pelo Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia) fez com que diminuíssem os voos ilícitos na região, com um aumento do transporte por via fluvial, ou por terra.
Justamente pela vastidão da América Latina, um dos pontos fundamentais para lidar com esses ilícitos é ter inteligência confiável e em tempo real. Mas é uma área delicada e pode haver dificuldade em uma agência entregar seus dados para outra, especialmente de outro país. Pode literalmente haver cenas de "ciúmes" das próprias informações, e o receio de que suas fontes possam ser comprometidas por um aliado descuidado.
A questão jurídica também precisa ser precisamente delineada, como mostraram no passado as dificuldades do Exército quando cooperou com o policiamento no Rio (e que voltou a realizar agora). O "status" jurídico do militar precisa ficar claro para que ele não seja alvo de questionamentos na Justiça.


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