São Paulo, terça-feira, 07 de junho de 2011

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ANÁLISE OS NEGÓCIOS DO MINISTRO

Dilma acha normal compartilhar decisão política com Lula

Não há hipótese de a presidente escolher, para Palocci, um desfecho diferente do desejado pelo seu antecessor

SERÁ POSSÍVEL VER A FIDELIDADE DA CRIATURA AO CRIADOR EM 2014, NA DEFINIÇÃO DO CANDIDATO A PRESIDENTE DO PT

FERNANDO RODRIGUES
DE BRASÍLIA

A crise política envolvendo o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, tornou mais evidente o que já era intuído em Brasília: a presidente Dilma Rousseff compartilha decisões do poder com seu antecessor no Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva.
Na sexta-feira, quando Palocci deu suas primeiras entrevistas depois de 20 dias da revelação da multiplicação de seu patrimônio, Dilma falou com Lula ao telefone. Combinaram novas conversas ao longo do fim de semana, o que aconteceu.
A decisão sobre o futuro do ministro será tomada em conjunto, por Dilma e Lula. Não há hipótese de a presidente optar por um desfecho diferente do desejado pelo seu antecessor.
Dilma parece não se incomodar a respeito do noticiário que a coloca como tutelada por Lula. A presidente tem relação de grande fidelidade com seu padrinho eleitoral.
Considera natural consultá-lo sobre assuntos de política nacional. Na média, conversam cerca de uma vez por semana, no mínimo.
Uma parte do mundo político considera demeritório Dilma aconselhar-se com Lula. No Planalto, há uma avaliação diferente. Eis a explicação ouvida pela Folha: "Ao povão soará como lealdade. Os lulistas vão achar que Lula acertou ao indicar alguém que não o traiu".
Essa repartição de poder não é inédita na política brasileira e mundial. Para ficar num exemplo próximo, foi assim na Argentina com Néstor Kirchner, que foi sucedido por sua mulher, Cristina, no comando do país.
No Brasil, no fim da ditadura militar, José Sarney tornou-se presidente por acidente. O titular, Tancredo Neves, morreu em 1985, antes de tomar posse.
Fraco e sem controle de seu partido, o PMDB, Sarney teve de se submeter à tutela de Ulysses Guimarães (1916-1992), à época o principal político do país.
Depois de um período inicial no Planalto, Sarney livrou-se do comando de Ulysses. Mas seu governo acabou de maneira desastrosa, com hiperinflação e sem influência na sucessão, em 1989.
Entre Dilma e Lula não está à vista algum rompimento. Até porque este não é o momento. O teste de estresse real entre ambos se dará quando 2014 estiver mais próximo. Aí será possível aferir o grau da fidelidade da criatura ao criador durante a definição de quem será candidato a presidente pelo PT.


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