São Paulo, sábado, 18 de setembro de 2010

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Negociação sobre quebras era até por e-mail

PF identifica três contratantes que pediam dados fiscais de contribuintes a servidora da agência Receita de Mauá

Chefe de Adeildda diz que conhece nomes citados por ela, mas que eles eram tratados sem nenhum privilégio

ANDRÉA MICHAEL
CLAUDIA ROLLI

DE SÃO PAULO

Em depoimento à Polícia Federal ao qual a Folha teve acesso, a funcionária do Serpro Adeildda dos Santos revela que recebia, principalmente por e-mail, as encomendas de acesso a dados sigilosos e também pela internet acertava valores -entre R$ 50 e R$ 200.
Os contratantes eram, segundo a PF, Erik Araújo Moura, Fernando Araújo Lopes e Danilo -seu sobrenome não aparece no depoimento.
Adeildda é funcionária do Serpro há 23 anos e desde que ingressou no órgão foi cedida à Receita. Trabalhou no fisco até quando foram identificados ao menos 2.900 acessos a declarações de renda imotivados pela máquina dela, no segundo semestre de 2009. Há duas semanas, foi devolvida ao Serpro, sinal de iminente demissão.
A PF mapeou troca de e-mails, usando o endereço oficial da Receita, entre Adeildda e Erik Moura e Fernando Lopes, falando sobre valores a pagar por serviço.
No depoimento ao delegado Hugo Uruguai consta que "Erik oferecia e a interrogada aceitava o pagamento e que eram feitos por Erik mediante depósitos na conta da interrogada, que pagava R$ 10 por pesquisas fiscais e R$ 100 por cópias de declarações".
Em sua defesa, ela diz que "passou a atender essas pessoas por determinação de seu ex-chefe Júlio Cesar Bertoldo, desde quando a interrogada laborou na agência de Ribeirão Pires, onde foi apresentada a Erik, Fernando e Danilo por Júlio".
Com o passar do tempo, já em Mauá, contou Adeildda no depoimento, também por determinação de Júlio, ela passou a atender pessoalmente Erik e Fernando.
Erik fazia pedidos por e-mail ou telefone, indo à agência para pegar os documentos das pesquisa.
"Fernando demandava seus pedidos inicialmente através de e-mail, e passou a fazer seus pedidos, a maioria, através de SMS."
Danilo fazia encomendas em sua maioria por e-mail mas também pelo celular.
Erik e Fernando tinham o telefone residencial de Adeildda. Erik chegou a criar um e-mail e repassar à investigada a senha para que ela acessasse e, na pasta de rascunhos, encontrasse as "encomendas". "Assim seria mais fácil para ela atender seus pedidos, pois o e-mail da interrogada estava sem acesso", diz o depoimento.
A perícia da PF também encontrou um e-mail de Bertoldo na máquina de Adeildda. É uma troca de correspondência, de 2007, com um escritório de contabilidade chamado Andrada. No conteúdo, o interlocutor, JC, disse que "o Nilson" tinha pedido dois CPFs, e lista os números". Em resposta, Bertoldo diz que vai providenciar a pesquisa.

OUTRO LADO
O analista tributário Julio Bertoldo afirmou que conhece Eric, Fernando e Danilo, citados por Adeildda, mas disse que eram tratados como qualquer outro contribuinte que busca atendimento em agência da Receita.
"Não os apresentei [a ela] e nunca pedi que fizesse serviço para eles. Eu os conheço porque iam à agência de Ribeirão, mas não me lembro de prestar atendimento a eles em Mauá."
Sobre a suposta troca de e-mail dele com o escritório Andrada, Bertoldo afirma que "nunca usou" a máquina de Adeildda. " É estranho. Não usei a máquina dele, nem tenho e-mail no hotmail." Ele admite ter trocado e-mails com escritórios da região, antes do uso de certificação dgital, para orientá-los sobre documentos necessários para resolver pendências fiscais. "Nunca teve troca de favor algum, nem recebi nada."
O servidor deve prestar esclarecimentos a PF na próxima semana e diz que "se for necessário, a PF pode quebrar meu sigilo telefônico e fiscal porque não tenho nada a temer". Bertoldo afirmou ainda que estava em férias, quando o sigilo de EJ e outros tucanos foi quebrado, entre os dias 5 e 8 de outubro.
A Folha não localizou, até o fechamento desta edição, os responsáveis pelo escritório Andrada Contábil, Erik Araújo de Moura e Fernando Araújo Lopes.


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