São Paulo, segunda-feira, 19 de julho de 2010

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PRESIDENTE 40 ELEIÇÕES 2010

Presidenciáveis recorrem a repeteco

Sem criatividade ou apressados para fixar mensagem, principais candidatos abusam da mesmice em discursos

Bordões e histórias contadas à exaustão reforçam no imaginário do eleitor temas e fazem lembrar presidente Lula

FLÁVIA FOREQUE
JOHANNA NUBLAT
RANIER BRAGON
DE BRASÍLIA

Acostumado à famoso -e repetitiva- sentença "nunca antes na história deste país", marca do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o eleitor brasileiro não ficará órfão dos bordões.
É o que prometem Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV), principais candidatos à Presidência, que já repetem exaustivamente algumas frases de efeito e ideias nos diversos eventos dos quais participam. Em alguns casos, mais de uma vez por dia.
Sem tempo para utilizar a criatividade, os candidatos passaram a adotar fórmulas com as quais conseguem passar, sem erro, a mensagem que lhes interessa.
Além disso, reforçam no imaginário do eleitor determinados temas.
A possibilidade de uma mulher ocupar, pela primeira vez, a Presidência da República, por exemplo, é assunto recorrente nos discursos da candidata petista.
Para enfatizar a importância da escolha, a ex-ministra já contou em diferentes momentos o encontro que teria tido com a pequena Vitória -os detalhes do diálogo é que variam de acordo com o momento da narrativa.
A história foi a cereja do bolo da convenção nacional do PT, em junho, que homologou o nome de Dilma e o do vice Michel Temer (PMDB) à disputa presidencial num concorrido evento realizado em Brasília.
Para fixar a imagem que Dilma pretendia passar, ao final do evento, o palco foi invadido por meninas que usavam a faixa presidencial.
A candidata do PT também não se cansa de carimbar seu perfil como sendo a principal gestora de Lula.
"Eu coordenei todos os programas do governo" é uma frase recorrente nos discursos da petista.

REALIZAÇÕES
Os feitos na vida pública também inspiram a repetição do candidato tucano.
José Serra costuma retornar à década de 80 para destacar o que ele considera como uma das suas grandes realizações.
"Fiz a emenda constitucional que permitiu criar o Fundo de Amparo ao Trabalhador, que paga o seguro desemprego" é frase sempre presente, com pequenas variações na formulação.
Para descontrair a plateia, Serra recorre a uma técnica amplamente usada pelo presidente Lula: comparações futebolísticas.
Os discursos seguem a lógica de que política não é "Fla-Flu" e deve estar dissociada da "cor da camisa partidária". "Cor de camisa, só de time de futebol", já brincou o tucano.

EMOÇÃO
A candidata verde não fica atrás na formulação das frases de efeito durante a campanha eleitoral.
O tom emotivo aliado ao jogo de palavras são os recursos mais frequentes em seu repertório.
É com uma dessas frases repetidas que Marina tenta colar no eleitor que ela é a sucessora de Lula -e não apenas uma simples continuadora ou, ao contrário, opositora do governo do PT.

CONFUSÃO
Em alguns momentos, entretanto, a própria candidata se confunde com o trocadilho criado.
A explicação do que seria o "ganhar ganhando" ou o "ganhar perdendo" numa eleição -referência ao nível do debate na campanha- é um exemplo dessa confusão.



José Serra
(PSDB)


PAVOR DE AGULHA

Fui ministro da Saúde quatro anos, sem saber aplicar uma injeção. Olha, eu não aguento nem ver aplicar injeção, me dá tontura
Rádio Metrópole, abril

Só quero dizer que eu não sei aplicar uma injeção. E, quando eu vejo aplicar uma injeção, já me dá um mal-estar
Itatiaia, abril

Eu tenho um certo medinho, pra ser bem sincero, apesar de ter sido ministro da Saúde. Eu não gosto nem de ver espetar a injeção
"CQC", da Bandeirantes,maio

ORIGEM HUMILDE

Eu nasci num bairro em SP, que era operário, na Mooca. Morava numa vila, dessas de casinha de quarto e sala
Itatiaia, abril

Eu sou de família pobre, morava num bairro operário de São Paulo e, lá, chegaram os primeiros migrantes nordestinos
No Minuto (RN), abril

A minha família é pobre. Eu morava num bairro operário de SP, que era o berço da industrialização de SP e do Brasil
Rádio Jornal
Pernambuco, maio

Dilma Rousseff
(PT)


TUDO MEU

Eu integrei o governo, coordenei os programas de governo, participei de cada uma das etapas
Rio de Janeiro, maio

Coordenei os programas e participei diretamente de vários deles
sabatina na CNI, maio

Nos últimos cinco anos e meio, eu coordenei todos os programas do governo Lula
"Roda Viva", da TV Cultura, junho

MENINA PODE?

Apareceu uma menina com a mãe. Chamava-se Vitória, e a mãe disse : ‘Eu a trouxe aqui para você dizer a ela que menina pode’. Ela queria dizer que menina pode ser presidente do Brasil
"SBT Brasil", maio

Uma senhora bem nova, com uma filha, disse: ‘Eu trouxe a Vitória aqui pra que você diga para ela que mulher pode’. Eu perguntei: ‘Vitória, mulher pode o quê?’ A mãe respondeu: ‘Ela quer ser presidente’
Canal Amazon Sat, junho

Eu perguntei para a menina: ‘Mulher pode o quê?’ E ela: ‘Ser presidente’. Aí, eu disse: ‘Pode sim, não tenha dúvida que pode’
convenção do PT, junho

Marina Silva
(PV)


A SUCESSORA

Ele não precisa apenas de um continuador. O presidente Lula precisa de um sucessor
sabatina da Folha, junho

Eu aprendi com o próprio presidente Lula que você precisa num determinado momento de um sucessor
Globonews, junho

Eu tenho me colocado nessa linha de sucessão, de ser a sucessora do presidente Lula
rádio Joven Pan, junho

CURTO PRAZO LONGO

É disso que o Brasil precisa: compromissos com política de longo prazo, para os nossos curtos prazos políticos
congresso de Secretarias Municipais de Saúde, em Gramado (RS), maio

Política de longo prazo para o curto prazo dos políticos em lugar de política de curto prazo para longo prazo para os políticos
visita ao Inpe, junho

Acabar com a política de curto prazo para alongar o prazo dos políticos. Essa é a minha lógica
debate na UnB, junho



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