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OPINIÃO
Em entrevista, Serra soa como postulante a bispo, não a presidente
JOSIAS DE SOUZA
DE BRASÍLIA
A melhor maneira de entender o rumo da campanha
de José Serra é observar as
perguntas que lhe são dirigidas em entrevistas e debates.
Serra foi ao "Jornal Nacional" num instante em que o
noticiário está impregnado
de apreensões ligadas ao
comportamento do câmbio.
Economista, o candidato
talvez tivesse muito a dizer
sobre a matéria. Mas a cotação do Real frente ao dólar
não fez parte da pauta.
Serra foi inquirido sobre
um tema que ajudou a converter em tópico dominante
da sucessão de 2010: a fusão
entre religião e política.
A mistura não deveria ser
evitada? Em desarmonia
com os fatos, Serra disse não
ter explorado o tema. Atribuiu o fenômeno à rival Dilma Rousseff e ao PT.
Aborto? "Sou contra". Mas
"nunca me passou pela cabeça transformar isso no centro
da campanha", disse Serra.
Pôs-se a realçar as diferenças
que o distinguem de Dilma.
Apresentou-se como "pessoa religiosa", frequentador
de igrejas, usuário da expressão "se Deus quiser".
Soou como candidato a
bispo, não a presidente.
A entrevista roçou a economia num único instante. E
não foi para que Serra discorresse sobre planos macroeconômicos. Ao contrário.
O candidato foi instado a
comentar outra excentricidade de sua propaganda: a
agenda populista. Como fará
para cumprir as promessas?
Simulando rigor técnico,
Serra orçou o mínimo de R$
600, os 10% para aposentados e o 13º do Bolsa Família
em 1% do Orçamento da
União. Coisa factível.
Foi confrontado: se fosse
tão fácil, Lula não teria feito?
"Eles têm outras prioridades". De resto, há "desperdício" e "desvios".
Vencida a pauta religioso-populista, Serra foi levado ao
caso Paulo "não se larga um
líder ferido na estrada" Preto.
Disse ter negado "há muito tempo" o sumiço de verbas
de sua campanha.
A notícia fora às páginas
de "IstoÉ" em agosto. E o tucanato fingiu-se de morto.
Deixou voando, sem desmentidos, uma encrenca que
agora lhe chega na forma de
uma dessas perguntas que
ajudam a entender os rumos
de sua campanha.
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