São Paulo, quinta-feira, 21 de abril de 2011

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ANÁLISE

Estratégia oficial é manter crescimento razoável mesmo com inflação alta

SÉRGIO VALE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Há alguns anos a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central costumava causar reações negativas por parte do lado real da economia (empresários, sindicatos), mas normalmente era bem aceita pelo mercado financeiro.
Havia um processo de entendimento do ciclo inflacionário e de comunicação do Banco Central com a sociedade muito eficientes.
Hoje, ocorre o contrário. A tendência de subir pouco a taxa de juros tem sido rechaçada pelo mercado, mas muito bem aceita pelo lado real.
Privilegiar o lado real em detrimento do mercado é interessante no quesito apoio da população, mas não necessariamente representa a melhor maneira de manter a estabilidade dos preços e da economia.
A queda da taxa de juros no longo prazo é desejo antigo de todos nós. O problema é que a política seguida pelo BC tem mantido o IPCA em 6% na média desde 2008, com exceção do ano recessivo de 2009.
A opção explícita nos últimos anos do governo Lula foi manter um crescimento razoável, mesmo que não se consiga trazer a inflação para o centro da meta, de 4,5%.
Isso ainda não era muito claro, não parecia muito evidente, porque o BC ainda tentava ser a contraposição de uma política fiscal em descontrole. Essa opção, no entanto, é hoje largamente amparada por todo o governo.
Explicitar a opção ao menos deixa clara a dificuldade que o governo terá para manter a inflação na meta. É muito difícil tentar crescer 5% nos próximos anos, como deseja o governo Dilma, mantendo uma inflação de 4,5% no mesmo período.
O governo já jogou a toalha e aceitou que a inflação ficará acima do centro da meta neste ano. Com 2012 chegando e toda a promessa de gastos públicos crescentes à vista, vamos novamente ter que discutir inflação acima do centro da meta.
O risco é irmos assim até o final de 2014, quando a "meta de inflação de 4,5%" poderá ser apenas uma expressão desgastada da história recente da economia brasileira.

SÉRGIO VALE, economista-chefe da MB Associados.


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