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ANÁLISE
Candidato abusa do "eu sou; eu fiz" para se mostrar mais preparado
FERNANDO CANZIAN
DE SÃO PAULO
"Eu criei". "Eu tive a iniciativa". "Eu fui até decisivo
para a escolha do nome", disse José Serra sobre os programas Bolsa Alimentação e
Bolsa Escola na sabatina Folha/UOL de ontem.
"Eu praticamente implantei no Brasil", afirmou, agora
sobre o Saúde da Família.
"Fui eu quem introduziu.
Quem inventou no Brasil a
vacinação contra a gripe fui
[eu]. Quem introduziu fui
eu", disse mais à frente.
Depois: "Eu propus isso
em 2007: vamos tirar esse
imposto [sobre o saneamento]". Mais: "Quando eu era
ministro, eu fiz aprovar uma
emenda constitucional", disse, a respeito da manutenção
de recursos para a saúde.
"Quando o governo decidiu prorrogar a CPMF [o imposto do cheque] fui eu, na
ocasião, que propus que seria um extra para a saúde".
Depois: "Eu, quando estava no governo Fernando
Henrique, ajudei... e participei, aliás, ativamente, dos
dois [Proer]. E ajudei na recuperação tanto do Banco do
Brasil quanto da Caixa".
Outra: "Se tem um cidadão no Brasil, um único, que
contribuiu para consolidar o
BNDES, fui eu. Foi da minha
iniciativa criar o Fundo de
Amparo ao Trabalhador. Outro fundo, do desenvolvimento do Nordeste, Norte e
Centro-Oeste, também foi
iniciativa minha. Aí de maneira mais coletiva, mas fui
eu o principal".
"Como ministro, em 1995,
fiz o regime automotriz, que
salvou a indústria automobilística no Brasil."
E por aí foi Serra: "Quando
eu fui preso no Chile, o motivo verdadeiro foi que eu tinha participado como um
dos principais atores do movimento de combate à tortura no Brasil. Fui uma das figuras principais nisso".
"Fiz campanha na Constituinte e fui talvez o principal
opositor dessa ideia [de adotar a pena de morte]."
Por fim: "Fui eu quem fiz,
junto com o [prefeito Gilberto] Kassab, a proposta de ser
o Morumbi [o estádio de
abertura da Copa]".
Com essas e outras, Serra
quis marcar a diferença entre
sua biografia de homem público e a da adversária do PT,
Dilma Rousseff. "À população cabe julgar as biografias.
O povão e os jornalistas."
Sem atacar Dilma diretamente, apesar de cobrar um
pedido de desculpas dela
por conta do surgimento de
um dossiê contra sua campanha, Serra teve o cuidado de
poupar Lula na sabatina.
Disse, inclusive, que Lula
é "muito experiente". Que o
petista tentou ser governador, foi deputado federal e
que concorreu, até se sair vitorioso, quatro vezes à Presidência da Republica -onde
detém hoje uma popularidade recorde.
A única estocada no presidente saiu após provocação
dos entrevistadores. Pediram a Serra que explicasse a
recente comparação que fez
entre Lula e o monarca francês Luís 14 (1638-1715), a
quem é atribuída a famosa
frase "L'État c'est moi".
"É essa coisa de "eu sou o
Estado". Eu sou tudo", esclareceu o candidato.
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