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ANÁLISE
Atitude do presidente é de cabo eleitoral, não de estadista
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
Cabe a um estadista com
80% de popularidade pedir
calma e responsabilidade
quando os ânimos se exaltam além do razoável em
eleições tão polarizadas
quanto a deste 2010.
O presidente Lula, porém,
age menos como estadista e
mais como cabo eleitoral,
classificando a agressão de
militantes petistas contra José Serra (PSDB), anteontem,
no Rio, como "farsa" e "mentira descarada".
Desconsidera que petistas
programaram o confronto,
que Serra foi atingido por um
rolo de fita crepe na cabeça,
que uma repórter da TV Globo levou um talho e que um
militante também foi ferido.
Não parece uma "farsa".
Logo, Lula conduz à conclusão de que não falou de acordo com a realidade, mas sim
levando em conta a conveniência eleitoral de Dilma
Rousseff (PT).
Como toda ação corresponde a uma reação, ontem
foi a vez de prováveis eleitores tucanos atirarem um balão com água na direção de
Dilma, que fazia carreata em
Curitiba. Pode vir mais por aí.
O ambiente de campanha
não é mais seguro.
As declarações calculadas
do presidente, movido pela
personalidade, a aprovação
popular e o histórico de lutas
sindicais, visam transformar
a vítima Serra em réu e correspondem a um novo chamamento a mais agressões.
Joga, assim, a campanha no
terreno do imprevisível.
Como faltam nove dias para a eleição, com a perspectiva de um resultado apertado,
o acirramento pode se aprofundar e gerar trocas de insultos e cenas de pancadaria
que em nada contribuem
com a democracia nem com
nenhuma candidatura.
Aliás, nem com o futuro
presidente, porque esta animosidade tende a se estender
para o próximo governo, ganhe Dilma ou Serra.
Como não se cumpriu a
profecia de que Dilma venceria tranquilamente no primeiro turno, a eleição já entrou no segundo com o país
praticamente dividido ao
meio entre vermelhos e
azuis. Qualquer que seja o
presidente, terá quase metade do eleitorado contra.
É melhor que os militantes
atuem civilizadamente na
campanha para que os eleitores não descontem no próximo governo, atirando rolos
de fitas e sacos de água sobre
o presidente - ou presidenta.
Lula sugeriu que Serra pedisse desculpas, "se tivesse
um minuto de bom senso".
Mas bom senso é o que ele
próprio, enquanto presidente, não está demonstrando.
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