São Paulo, sexta-feira, 22 de outubro de 2010

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Aliado de Dilma atua contra investigação

No cargo e com defesa paga pela Eletrobras, Valter Cardeal interferiu diretamente na atuação da CGU na estatal

Escuta da PF mostra que diretor, acusado de desvio de recursos do Luz para Todos, evitou ser responsabilizado

HUDSON CORRÊA
DO RIO

Escuta da Polícia Federal aponta que o diretor de Planejamento e Engenharia da Eletrobras, Valter Cardeal, atuou contra investigação da CGU (Controladoria-Geral da União) na estatal elétrica.
Procurado, ele afirmou que a CGU reviu a suspeita de irregularidade no programa Luz para Todos, mas negou que isso tenha ocorrido por interferência dele.
A CGU afirma que, após pedido de reconsideração, manteve "as impropriedades" anteriores, mas deixou de responsabilizar os diretores individualmente.
O grampo foi feito, com autorização judicial, em 10 de setembro de 2008. Quatro meses antes, Cardeal havia, com base em auditoria da CGU, sido denunciado ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) pela Procuradoria da República, acusado de formação de quadrilha, gestão fraudulenta e desvio de recursos do Luz para Todos.
Cardeal permaneceu no cargo e ainda teve sua defesa paga pela Eletrobras, que contratou um escritório de advocacia por R$ 1 milhão.
O diretor é aliado da presidenciável Dilma Rousseff (PT) no setor elétrico há 20 anos, desde o tempo em que ela era secretária de Minas e Energia do RS.
A escuta telefônica captou uma conversa entre Cardeal e o ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau (2005 a 2007). Na época, a PF apurava suposto tráfico de influência no setor elétrico e, por isso, grampeou o celular de Rondeau.
O ex-ministro também foi denunciado ao STJ, acusado dos mesmos crimes. Para a Procuradoria, Cardeal e o ex-ministro autorizaram mudanças em contrato da Cepisa (companhia energética do Piauí) com a Eletrobrás para execução do Luz para Todos.

ESCUTAS
Nas conversas gravadas pela PF, Rondeau diz que o relatório da CGU -a base da denúncia ao STJ- "era uma maluquice, que trocou os pés pelas mãos". O ex-ministro afirmava também tratar de sua defesa na Justiça direto com Cardeal, na Eletrobras.
Na conversa com o diretor em setembro de 2008, o assunto da CGU voltou à tona. "Já foi encaminhada para o TCU [Tribunal de Contas da União] aquela prestação de contas?", pergunta o ex-ministro a Cardeal.
"A CGU do Piauí fez um relatório. E o Édison Freitas [membro do conselho fiscal da Eletrobras] (...) fez um outro relatório em cima do relatório da CGU e mandou para a Eletrobras. (...). Ele [Freitas] emite duas notas técnicas nos acusando, né, e já mandando tomar medidas", afirma Cardeal. Silas reage: "Filho da puta".
"Os caras, que nós deixamos lá, concordaram que tinha irregularidade dentro da Eletrobras. Mas eu mandei um pau naquele japonês. E no Édison Freitas, também detonei", diz Cardeal.
Em outra parte do diálogo, o diretor afirma que o relatório será entregue pelo então ministro de Minas e Energia Edison Lobão (PMDB) ao ministro da CGU, Jorge Hage.
Logo depois, o diretor afirma já ter procurado Ramos, que, segundo a PF, é Antônio Carlos Ramos, então assessor de Lobão. "A sorte que falei com Ramos ontem. E o Ramos está por dentro disso", afirmou Cardeal.


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