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Aliado de Dilma atua contra investigação
No cargo e com defesa paga pela Eletrobras, Valter Cardeal interferiu diretamente na atuação da CGU na estatal
Escuta da PF mostra que diretor, acusado de desvio de recursos do Luz para Todos, evitou ser responsabilizado
HUDSON CORRÊA
DO RIO
Escuta da Polícia Federal
aponta que o diretor de Planejamento e Engenharia da
Eletrobras, Valter Cardeal,
atuou contra investigação da
CGU (Controladoria-Geral da
União) na estatal elétrica.
Procurado, ele afirmou
que a CGU reviu a suspeita de
irregularidade no programa
Luz para Todos, mas negou
que isso tenha ocorrido por
interferência dele.
A CGU afirma que, após
pedido de reconsideração,
manteve "as impropriedades" anteriores, mas deixou
de responsabilizar os diretores individualmente.
O grampo foi feito, com autorização judicial, em 10 de
setembro de 2008. Quatro
meses antes, Cardeal havia,
com base em auditoria da
CGU, sido denunciado ao STJ
(Superior Tribunal de Justiça) pela Procuradoria da República, acusado de formação de quadrilha, gestão
fraudulenta e desvio de recursos do Luz para Todos.
Cardeal permaneceu no
cargo e ainda teve sua defesa
paga pela Eletrobras, que
contratou um escritório de
advocacia por R$ 1 milhão.
O diretor é aliado da presidenciável Dilma Rousseff
(PT) no setor elétrico há 20
anos, desde o tempo em que
ela era secretária de Minas e
Energia do RS.
A escuta telefônica captou
uma conversa entre Cardeal
e o ex-ministro de Minas e
Energia Silas Rondeau (2005
a 2007). Na época, a PF apurava suposto tráfico de influência no setor elétrico e,
por isso, grampeou o celular
de Rondeau.
O ex-ministro também foi
denunciado ao STJ, acusado
dos mesmos crimes. Para a
Procuradoria, Cardeal e o ex-ministro autorizaram mudanças em contrato da Cepisa (companhia energética do
Piauí) com a Eletrobrás para
execução do Luz para Todos.
ESCUTAS
Nas conversas gravadas
pela PF, Rondeau diz que o
relatório da CGU -a base da
denúncia ao STJ- "era uma
maluquice, que trocou os pés
pelas mãos". O ex-ministro
afirmava também tratar de
sua defesa na Justiça direto
com Cardeal, na Eletrobras.
Na conversa com o diretor
em setembro de 2008, o assunto da CGU voltou à tona.
"Já foi encaminhada para o
TCU [Tribunal de Contas da
União] aquela prestação de
contas?", pergunta o ex-ministro a Cardeal.
"A CGU do Piauí fez um relatório. E o Édison Freitas
[membro do conselho fiscal
da Eletrobras] (...) fez um outro relatório em cima do relatório da CGU e mandou para
a Eletrobras. (...). Ele [Freitas]
emite duas notas técnicas
nos acusando, né, e já mandando tomar medidas", afirma Cardeal. Silas reage: "Filho da puta".
"Os caras, que nós deixamos lá, concordaram que tinha irregularidade dentro da
Eletrobras. Mas eu mandei
um pau naquele japonês. E
no Édison Freitas, também
detonei", diz Cardeal.
Em outra parte do diálogo,
o diretor afirma que o relatório será entregue pelo então
ministro de Minas e Energia
Edison Lobão (PMDB) ao ministro da CGU, Jorge Hage.
Logo depois, o diretor afirma já ter procurado Ramos,
que, segundo a PF, é Antônio
Carlos Ramos, então assessor de Lobão. "A sorte que falei com Ramos ontem. E o Ramos está por dentro disso",
afirmou Cardeal.
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