São Paulo, terça-feira, 26 de abril de 2011

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JANIO DE FREITAS

As ideias sumidas


O PSDB está em crise, mas em nenhum momento sua posição ideológica foi posta em questão

O COMENTÁRIO DE LULA que identifica no PSDB uma "crise de identidade ideológica" é incorreto em relação ao PSDB. Parece resultado de um desvio ótico do ex-presidente. O único problema que o PSDB não demonstra é o de falta de coerência ideológica. Esse mal é visível no PT, é o que nele esquenta as tantas correntes e confrontações internas, por mais que os petistas procurem não as tornar públicas.
O PSDB discute a absorção do DEM, ideia lógica que não provoca entusiasmo de um lado nem do outro, dadas as disputas regionais. Mas por si só indica a permanência da definição ideológica concretizada quando o candidato Fernando Henrique Cardoso aliou-se ao PFL/DEM e deu-lhe a Vice-Presidência. Ruptura com tudo o que houvesse ainda de ideologia social-democrata, como seu governo confirmaria, sem concessão alguma às ideias da origem.
O PSDB está em crise, mas em nenhum momento sua posição ideológica foi posta em questão. Nem sequer quando José Serra precisava buscar um sentido para sua candidatura amorfa. O PSDB limitou-se a aceitar a crise como o desenrolar de um definhamento, agora já de uma desintegração fútil, idêntica às dos pequenos partidos. Nada de dissonância ideológica.
A primeira iniciativa de debate da situação do partido foi o recente artigo-manifesto de Fernando Henrique. Os correligionários responderam com a inércia, para não dizer com descaso. No longo texto, de qualquer modo, não se vislumbram críticas ou propostas relativas à identidade ideológica do PSDB.
O que pareceria uma introdução ao tema eram apenas considerações sobre táticas eleitorais. Na essência, de confirmação, e não de reavaliações, da fisionomia ideológica do partido. Nisso incorrendo até no escorregão, costume do autor, do "povão" à margem do eleitorado a ser pretendido pelo PSDB.
São vários os fatores de desestabilização do partido, menos ou mais expostos. Um dos mais importantes, senão o mais, é o enfraquecimento, na política, dos peessedebistas de São Paulo em um partido substancialmente paulista. Fora da corrente paulista, e com a exceção recente de Aécio Neves, peessedebistas só obtiveram realce no partido se associados ao grupo dominante, como prestador de serviços. Hoje o PSDB é um partido povoado, porém vazio.
Pelo lado externo, os peessedebistas sofreram perda ponderável do seu eleitorado, com a abertura feita por parte da classe média para aceitar Lula, depois aplaudir seu governo e prosseguir com Dilma, já o provam as pesquisas.
O PT, por sua vez, tem quantidade excessiva de faces. Absorveu, pelo silêncio contrariado ou não, a apropriação feita por Lula de pedaços ideológicos do PSDB, explicitados pelos dois em suas políticas econômicas. E apropriação de modos do PMDB, e do PP malufista hoje PR, e do que mais passasse ao alcance de suas ofertas e dádivas. No outro prato, políticas assistencialistas a que o petismo sempre se opôs por motivos ideológicos. Pelo lado de dentro, desde corrente paloccista a correntes que falam em socialismo, e, falando ou não, justificando todo o contrário. Táticas, dizem. Mas identidade ideológica, não.

CARTA
O secretário Especial de Saúde Indígena, Antonio Alves de Souza, manda correspondência a respeito do artigo de crítica à transferência de verbas da Secretaria (Sesai) de volta à Funasa. A par da defesa que faz do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, como se esperaria que fizesse para com seu superior, alega existência de obras já licitadas pela Funasa.
Bastaria, no entanto, passar as obras à responsabilidade da Sesai, como tudo mais a respeito da destratada saúde de indígenas foi passado.


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