São Paulo, quinta-feira, 26 de agosto de 2010

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RENATA LO PRETE

Hoje, PT + PMDB; amanhã, PT x PMDB


Polarização entre petistas e tucanos, após 16 anos, vai perder importância


MICHEL TEMER sentiu o cheiro de queimado e, sem que ninguém lhe sugerisse, correu a divulgar um desmentido dos relatos de que o PMDB já estaria "repartindo o pão" do próximo governo.
A nota vale menos pelo conteúdo e mais pela rapidez com que o presidente do partido veio a público desautorizar o debate sobre a partilha. O vice de Dilma Rousseff sabe bem que o PT nada fica a dever ao PMDB em apetite. Interessa aos companheiros que a narrativa do noticiário escolha a sanha fisiológica do aliado como ameaça maior à futura administração.
Mantidas as tendências apontadas pelas pesquisas, a eleição deste ano deverá marcar uma inflexão na curta história da "redemocracia" brasileira: depois de 16 anos, a polarização PT-PSDB perderá importância e talvez até significado.
Se ungida no primeiro turno, Dilma terá de saída uma força política extraordinária. Com ela estará um PT revigorado pelo crescimento expressivo de suas bancadas no Congresso. E, pairando sobre todos, Lula, decidido a ser um ex-presidente como nunca antes se viu na história deste país.
Ocorre que também o sócio PMDB sairá muito fortalecido das urnas. Terá diante de si uma janela de oportunidade ampla demais para ser desperdiçada com o simples loteamento de cargos -que de resto uma hora ou outra será feito.
Ao grudar em Dilma, Temer & cia. terão a chance de se apresentar como uma espécie de poder moderador. Afinal, a quem os descontentes irão recorrer se a eleita decidir implementar os itens subtraídos do programa de governo do PT?
Unida como jamais esteve sob FHC ou Lula, a federação peemedebista "pode mais", como diria o slogan de José Serra, e disso os outros não querem saber.
Em campanha pela reeleição no Ceará, Cid Gomes (PSB) resolveu pregar aproximação entre PT e PSDB, a partir de 2011, como forma de "atenuar o risco" da dependência do PMDB -ainda que este faça parte de seu arco de apoios no Estado. O irmão de Ciro classificou Temer pejorativamente como "um vice com ambições".
Lula, autoproclamado maestro da reforma política que Dilma promete fazer, tem emitido sinais de que é preciso sedimentar a união com parceiros históricos do PT, como o próprio PSB, o PC do B e o PDT.
Ou seja, a turma que foi relegada à periferia da aliança em nome do consórcio firmado para eleger Dilma será convocada para conter a emergência do PMDB. Cacos recolhidos dos escombros da oposição também poderão ajudar.
Diferentes no perfil e agora semelhantes no tamanho, PT e PMDB medirão forças e não somente no Congresso. A disputa pelo comando das duas Casas será apenas o primeiro capítulo.

RENATA LO PRETE é editora do Painel


AMANHÃ EM PODER:
Mark Weisbrot




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