São Paulo, terça-feira, 26 de outubro de 2010

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MAURO PAULINO

O poder do criador


Os que avaliam que Lula faz bom governo, mas não ótimo, estão divididos: metade para cada candidato

PERSONAGEM central da eleição, Lula chega à semana decisiva com 82% dos eleitores julgando sua gestão como ótima ou boa. Apenas 14% avaliam seu governo como regular e parcos 3% o desaprovam. Como decorrência dessa aprovação maciça, sua candidata volta a abrir vantagem sobre a oposição e reafirma o favoritismo do governo. Mantida a tendência, no domingo a criatura será ungida a sucessora e o criador terá obtido seu maior feito. Mas será esta uma unanimidade tão avassaladora quanto aparenta?
Em 2006, Lula chegou à última semana de campanha no segundo turno aprovado por 53% dos eleitores, 29 pontos menos que hoje. Outros 32% consideravam seu governo regular e 15% ruim ou péssimo. Elegeu-se com 61% dos votos válidos, 22 pontos a mais que Alckmin.
Por padrão histórico, os institutos consideram como aprovação o agrupamento das categorias ótimo e bom. Já a reprovação é o resultado da soma das taxas ruim e péssimo.
Para melhor compreensão do atual momento, vale analisar esses dados separadamente. A aprovação ao governo divide-se hoje em 36% que o consideram ótimo e 45% bom. O contraste é significativo na comparação com 2006, quando essas taxas chegavam a 14% e 39%, respectivamente. Dobrou, portanto, o grupo que considera Lula ótimo.
No outro extremo a comparação é igualmente categórica, já que o número dos que consideram o governo ruim caiu de 6% para 1% e dos que o avaliam como péssimo de 9% para 2%. A se considerar como não aprovação ao governo a soma de regular, ruim e péssimo observa-se que de 2006 para cá despencou de 46% para 17% o número de eleitores que não aprovam Lula.
São os admiradores extremos de Lula, aqueles que enxergam seu governo como ótimo, que sustentam a liderança de Dilma. Ela só supera Serra entre eles, mas com uma vantagem que chega a 60 pontos nos votos válidos. São responsáveis por 55% dos votos governistas. Já os que não aprovam Lula, incluídos os que o consideram regular, dão uma vantagem a Serra de 72 pontos.
Tomando-se, portanto, a avaliação do governo Lula como fator de definição da disputa, verifica-se que tanto os admiradores extremos quanto os eleitores mais críticos ao governo estão muito definidos e com os votos majoritariamente cristalizados.
São os que avaliam que Lula faz um bom governo, mas que não chega a ser ótimo, que se mostram numericamente divididos: metade para cada candidato. Entre eles também se encontra o maior número de eleitores que ainda admite mudar o voto: 15%, o que representa cerca de 6% do eleitorado.
Mesmo que todos se decidissem por Serra não seria suficiente para mudar o quadro. Para isso é preciso persuadir também uma parcela dos 36% de eleitores muito satisfeitos com o governo.
São números que corroboram o poder eleitoral de Lula, mas que também relativizam a aparente unanimidade a ele atribuída. Essa eleição já demonstrou que sua influência é incontestável, mas não insuperável. A próxima gestão mostrará o quanto a sombra desse poder será positiva ou negativa para qualquer um que assumir o cargo, diante de taxas muito menos robustas de aprovação popular.


MAURO PAULINO é diretor-geral do Datafolha

AMANHÃ EM ELEIÇÕES:
Marco Antonio Villa


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