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Partido do eu sozinho
Sem espaço em seus partidos, Kassab e Marina planejam futuro em novas siglas; voos solo têm pouca chance de êxito, afirma historiadora
BERNARDO MELLO FRANCO
DE SÃO PAULO
Em conflito com dirigentes
de seus partidos, o prefeito
Gilberto Kassab (ex-DEM) e a
ex-presidenciável Marina Silva (PV) devem enfrentar dificuldades para alçar voo solo
a bordo de novas legendas.
A criação de siglas sob medida para a dupla esbarra em
futuros problemas como
pouco tempo de TV e limitação de repasses do Fundo
Partidário, dividido com base nas últimas eleições.
Ainda que abriguem políticos famosos, os partidos
novos são tratados da mesma
forma que os nanicos.
Isso significa que Marina
poderia ser obrigada a disputar o Planalto em 2014 com
menos de um minuto de propaganda na TV -no ano passado, os nanicos se espremeram em 55 segundos cada.
O argumento tem sido citado por "marineiros" contrários à ruptura com o PV.
Kassab, que já formalizou
sua saída do DEM, dependeria de alianças com outras siglas para não "sumir" na sucessão do governador Geraldo Alckmin (PSDB).
A missão vai esbarrar no
esforço de tucanos e petistas
para montar coligações em
torno de seus candidatos.
A verba destinada pela
Justiça Eleitoral a cada partido começaria em torno dos
R$ 40 mil mensais, como
mostrou reportagem publicada ontem na Folha.
Num quadro já congestionado por 27 legendas, a historiadora Marly Motta, do
CPDoc da FGV (Fundação
Getulio Vargas), vê pouco espaço para o lançamento de
"partidos do eu sozinho".
"São aventuras com chance remota de sucesso. A política brasileira está institucionalizada. Num cenário estável como o atual, é muito difícil ser um outsider", avalia.
Kassab já deu o primeiro
passo, mas depende da coleta de 490 mil assinaturas para registrar o PSD.
Marina articula a nova sigla como plano B, no caso de
não conseguir destituir o presidente José Luiz Penna do
comando dos verdes.
TERCEIRA VIA
Apesar das diferenças de
perfil, os dois apresentam
seus projetos sob o mesmo
rótulo de "terceira via" e tentam evitar a personalização
de suas plataformas.
Eleito à sombra do ex-governador José Serra (PSDB),
o prefeito investiu na ressurreição da sigla histórica de
Juscelino Kubitschek para
dar uma imagem desenvolvimentista a seu partido.
A estratégia foi frustrada
pela família do ex-presidente, que o acusou de usurpar a
marca "JK" na internet.
A ex-senadora verde não
fala abertamente na criação
de uma nova legenda, mas já
discutiu o plano em conversas com aliados, que descartam a hipótese de migração
para outra sigla já existente.
Ainda sem sigla definida,
seu "PV do B" é encampado
pelo Movimento Marina Silva, mas ela afirma não ser líder da dissidência verde.
"Não existe essa história
de grupo da Marina", disse,
na última sexta-feira.
Para Marly Motta, uma
possível ruptura provocaria
danos tanto à ex-presidenciável quanto à legenda.
"Os dois podem estar se
preparando para dar um tiro
no pé. O PV depende de Marina, mas ela também se beneficiou da imagem do partido
na campanha", avalia.
Kassab, por sua vez, aposta num projeto sem bandeiras ideológicas definidas. O
manifesto do novo PSD defende ideias genéricas como
o direito à propriedade e a
justiça social.
"Ele não é um político carismático como Leonel Brizola, que criou o PDT em torno
de seu nome. É uma estratégia bastante arriscada", afirma a historiadora.
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