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Prefeito negociou propina de R$ 10 mi, diz denúncia
Investigação em Dourados não detecta, no entanto, se pagamento foi feito
Promotoria afirma que diálogo gravado mostra negociação; o advogado do prefeito afastado não foi localizado ontem
RODRIGO VARGAS
DE CUIABÁ
Denúncia encaminhada
pelo Ministério Público à Justiça indica a negociação de
pagamento de propina de R$
10 milhões ao prefeito afastado de Dourados, Ari Artuzi
(sem partido). A origem do
pagamento viria da renegociação de uma dívida de R$
200 milhões da administração municipal.
As investigações não detectaram se o pagamento ilegal foi efetuado, mas segundo a ação, à qual a Folha teve
acesso, a possibilidade foi
discutida.
Em uma conversa gravada
no dia 21 de junho entre o então advogado de Artuzi, Áureo Garcia Ribeiro Filho, e o
secretário de Governo, Eleandro Passaia, que atuava como infiltrado pela Polícia Federal o assunto foi citado.
A negociata envolveria
uma dívida contraída em
1996 com o antigo banco
Pontual para as obras do
CAM (Centro Administrativo
Municipal). A cobrança é alvo de uma execução que tramita na Justiça de São Paulo.
O banco Pontual sofreu intervenção do Banco Central
em 1998. No ano seguinte, teve sua liquidação decretada.
O rombo na instituição foi estimado em R$ 268 milhões.
No diálogo, segundo a Promotoria, Ribeiro Filho cita a
renegociação da dívida como
uma forma de o prefeito não
receber apenas propinas "de
picadinho".
"[Áureo] informou que teria contato com um escritório
de advocacia de São paulo e
conseguiria abaixar o valor
da dívida, mediante negociação, para cerca de R$ 20 milhões", relata a Promotoria.
A Passaia o advogado informou que o prefeito poderia incluir no acordo um valor R$ 10 milhões acima do
necessário para a quitação
"de modo que o município
pagaria R$ 30 milhões à credora e seriam, posteriormente, devolvidos para Artuzi os
R$ 10 milhões embutidos no
pagamento".
Na gravação, o advogado
argumenta, ainda, que o prefeito poderia se beneficiar
politicamente do acordo,
uma vez que, oficialmente,
havia conseguido reduzir a
dívida municipal para "apenas R$ 30 milhões".
Segundo a ação, no diálogo o advogado diz que o prefeito poderia "superfaturar
no acordo um valor até maior
que 10 milhões, mas que os
titulares do crédito não aceitariam devolver um valor
maior do que aquele que caberia para o pagamento da
dívida, ou seja, maior do que
20 milhões".
O advogado foi denunciado sob acusação de corrupção ativa, pois, para a Promotoria, "exerceu papel que vai
além de uma simples relação
advogado-cliente, demonstrando ter pleno conhecimento do esquema".
OUTRO LADO
A Folha tentou contato
com o advogado, mas não
conseguiu. A cobrança da
Prefeitura de Dourados é feita por uma empresa especializada, a Cobracon, que não
foi localizada.
A reportagem também não
localizou o advogado de Artuzi. Em outras ocasiões, sua
defesa tem negado todas as
acusações.
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