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ELIO GASPARI
Leis do futebol para um resultado eleitoral
O alcance do enunciado
de Jimmy Sirrel: "O melhor time sempre ganha. O resto é fofoca"
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HOJE À NOITE será conhecido o próximo presidente da República. Desde 1989 não se via uma campanha terminar de forma tão divisiva e oca. O estudo do mapa eleitoral permitirá que se chegue a explicações políticas e sociais para o resultado. De todas, a de alta toxicidade e baixa honestidade será aquela que atribuirá a derrota ao marqueteiro.
Nenhuma explicação superará a mais elementar constatação: o povo foi chamado, cada cidadão teve direito a um voto, eles foram contados, e foi eleito quem teve mais preferências.
A pobreza da campanha durante o segundo turno criou terreno fértil para uma perigosa radicalização. De um lado e de outro surgiram vozes, ainda tímidas, discutindo a legitimidade do mandato. Em alguns casos, vocalizam um paradoxo: o resultado de hoje pode colocar em risco a democracia brasileira. Fica difícil entender como uma eleição pode ameaçar a democracia.
Esse tipo de raciocínio embute, necessariamente, a desqualificação do voto do outro. Parte do pressuposto segundo o qual os votos dados a uma candidatura valem mais (ou menos) do que aqueles dados a outra. É o mais antidemocrático dos argumentos: meu voto é melhor que o dele.
Essa prática prosperou no século passado e custou ao Brasil 36 anos de ditaduras, durante as quais o povo não escolheu presidente algum. Agora mesmo, nos Estados Unidos, há milhões de americanos convencidos de que o companheiro Obama pode ser considerado um socialista (55%), nasceu no Quênia ou na Indonésia (24%) e é muçulmano (20%). Quem pensa assim nesta semana deverá votar contra seus candidatos, mas ninguém milita na contestação da legitimidade do seu mandato.
Dois filósofos do futebol podem socorrer tanto aqueles se julgarem vencedores como os que se sentirem derrotados.
Aos vencedores: "O melhor time sempre ganha. O resto é fofoca". (Do técnico escocês Jimmy Sirrel.)
Aos perdedores: "O melhor time pode perder. O resto é fofoca, boa fofoca". (Do professor norueguês Steffen Borge, da Universidade de Tromso, comentando a teoria de Sirrel.)
QUEM IDENTIFICOU MENGELE FOI O CÔNSUL DACHI
É injusto atribuir ao senador Romeu Tuma um papel decisivo na descoberta do paradeiro do criminoso nazista Josef Mengele, o médico de Auschwitz. Enquanto viveu foragido, Mengele sempre manteve comunicação com a família e, em 1985, a polícia alemã identificou, com nome, sobrenome e endereço, um casal que o acoitara em São Paulo.
Eles revelaram a Tuma que Mengele vivera em São Paulo como "dr. Gerhard", morrera afogado na praia de Bertioga em 1979 e fora sepultado no cemitério do Embu. Tuma exumou o corpo, mas a descoberta foi recebida com ceticismo pelos principais caçadores de nazistas. O mais famoso deles, Simon Wiesenthal, ironizou: "Essa é a sétima morte de Mengele".
Quem desfez o enigma foi Stephen Dachi, cônsul americano em São Paulo. Dentista, fluente em português, espanhol e alemão, Dachi estudou o diário mantido pelo "dr. Gerhard" e encontrou uma entrada na qual ele informava que, em 1978, fizera um tratamento de canal com um certo dr. Gama, em "Sam". Dachi percebera que o doutor gostava de abreviaturas e concluiu que "Sam" significava "Santo Amaro". Achou o dentista e as radiografias do paciente. Elas conferiam com a ficha dentária de Mengele feita na Alemanha em 1939.
Em 1992, um exame de DNA bateu o martelo. Do episódio ficou a suspeita de que a família de Mengele, que o sustentou durante 34 anos, vivendo no Paraguai e, mais tarde, modestamente, no Brasil, quis encerrar o mistério em torno do paradeiro do "Anjo da Morte".
O ALMIRANTE E LULA
O almirante Roberto de Guimarães Carvalho, comandante
da Marinha de 2003 a 2007, publicou um livro de reminiscências
("Minha Travessia") contando
sua vida militar e uma paixão
por submarinos.
Ele narra dois episódios que
jogam luz sobre o estilo de Nosso
Guia no trato com seus ministros.
Meses depois do escândalo do
mensalão, Lula disse-lhe: "Algum dia o Zé (Dirceu) vai ter que
explicar para a sociedade brasileira tudo o que fez". (No que depender de Lula, esse dia ficará
para 2045, ano do seu centenário
de nascimento.) Na mesma ocasião, disse: "Eu devia ter tirado o
Zé Dirceu quando surgiu aquele
primeiro problema". (Referia-se
ao escândalo em que se envolveu, em 2004, o assessor da Casa
Civil Waldomiro Diniz.)
Em 2003, quando os três comandantes militares seriam
substituídos, Nosso Guia disse
que nomearia o general Francisco Albuquerque para o conselho
da Petrobras e pediu aos outros
dois que lhe dissessem para qual
conselho de estatal gostariam de
ir. "Bastaria pedir."
O comandante da Aeronáutica caiu fora, alegando motivos
de saúde. O almirante fez que
não ouviu. Nosso Guia acha natural que um cidadão sirva ao Estado por 40 anos, chegue a comandante de sua Força e termine a carreira pedindo uma boquinha.
DESAFIO DE FHC
Está de pé o desafio de Fernando Henrique Cardoso a Nosso Guia: "Presidente Lula, quando acabar a eleição, quando você puser o pijama, venha ao meu
instituto, vamos conversar, cara
a cara". O ex-presidente saiu da
campanha como um príncipe.
Não se pode dizer o mesmo de
seu sucessor.
FIM DE UMA FORMA
A inserção fraudulenta de cinco
nomes de intelectuais nas listas de
adesões aos manifestos de apoio
aos candidatos à Presidência ajudou a enterrar uma forma de manifestação política do século passado.
Pelo lado de Serra, fraudaram as
adesões do poeta Afonso Romano
de Sant'Anna, do compositor Ivan
Lins e da cantora Sandra Sá. Pelo
de Dilma, as do cineasta José Padilha e da escritora Ruth Rocha.
O E-BOOK DE GROSSMAN
Boas notícias para a professora
Lourdes Sola, o historiador Daniel
Aarão Reis e os demais admiradores brasileiros do escritor russo Vasily Grossman, autor de "Um Escritor na Guerra":
Seu monumental romance "Vida
e Destino" será editado em português no ano que vem. Por conta desse livro o romancista Martin Amis
chamou Grossman de "o Tolstói soviético". Um lidou com a batalha de
Borodino. O outro, com a de Stalingrado.
Acaba de sair nos Estados Unidos uma coletânea de contos, ensaios e reportagens de Grossman,
entre elas uma das primeiras descrições do campo de extermínio de
Treblinka, ao qual ele chegou em
setembro de 1944, com o Exército
Vermelho.
Um conto ("Mama") é precioso.
Baseia-se no que teriam sido as
lembranças da menina Nadya, filha adotiva de Nikolai Yezhov, o
chefe da polícia secreta de Stálin,
alcoólatra, bissexual e conhecido
como "o anão sanguinário". Ele foi
passado nas armas em 1940 e sua
mulher morreu num hospital, talvez
por ordem dele.
Sem pais biológicos nem adotivos, Nadya viveu de orfanato em orfanato. Ela está viva e não tem palavras amargas para com Yezhov.
"The Road" está acessível na
Amazon. O e-book custa a pechincha de US$ 9,29 (R$ 16).
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