São Paulo, sábado, 08 de junho de 2002 |
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Pós-nacional
A Constelação Pós-Nacional - Ensaios Políticos
Coletânea de textos de diversas procedências que discutem o papel do
Estado nacional, pressionado pelo contexto da globalização, bem como
as formas e aporias do discurso cultural sobre os direitos humanos. Segundo Habermas, constelação "pós-nacional" caracterizaria uma época histórica e um Estado jurídico no qual boa parte dos processos sociais deixam de ter, nas fronteiras geopolíticas do Estado-nação, a delimitação de seu sentido e atuação. Diante dessa situação, uma das questões é saber se as ciências sociais ainda podem ser pensadas da mesma
maneira ou se estão obrigadas a repensar todos os seus paradigmas, como quer certo discurso pós-moderno. Especialmente interessantes são
os artigos finais, que se defrontam com o debate contemporâneo sobre
a ética das experimentações genéticas.
Se você pensa que José Bové não é mais que um camponês parrudo,
tacanho defensor de interesses "atrasados", este livro lhe é indicado.
Nessas longas entrevistas, pode-se acompanhar a história recente numa visão privilegiada. Bové (bem como François Dufour) está no centro do furacão crítico ao neoliberalismo. De Seattle a Porto Alegre, da
discussão sobre o protecionismo e a assimetria entre países ricos e pobres, passando pela barbárie político-tecnológica dos alimentos transgênicos (cujo objetivo é transformar as sementes em monopólio privado e, assim, garantir a fome para os pobres) e pela "macdonaldização"
dos estômagos e dos cérebros, quase tudo que é importante nesta nova
era passa pela lente desse pensador-agricultor. Uma lente que, focada a
partir da utopia da mesa farta e sadia, imagina um mundo melhor e enxerga com clareza seus inimigos, como a OMC e o FMI.
Russel Jacoby é um autor dado a discursos terminais. Sua obra mais
famosa, "Os Últimos Intelectuais", versa sobre o encerramento de uma
tradição intelectual boêmia e engajada. Neste novo livro, encara outro
fecho: o fim das utopias. Embora sua capacidade para criar teorias ou
alternativas a esse estado cataclísmico seja discutível, sua prodigiosa habilidade em levantar questões e mapear as origens dos impasses contemporâneos é invejável. Com maestria, apresenta, discute e ataca as
novas modas e vertentes intelectuais neoliberais, globalizantes, particularistas, pragmatistas, "multiculturalistas", normalmente endossadas
por antigos "radicais" e esquerdistas arrependidos. Trata-se de um apelo em favor de uma nova vontade utópica, ciente de seus erros e limites,
que demonstra que no coração da América de Bush pulsa forte um desejo em favor do radicalismo e do inconformismo, como tarefa e missão dos intelectuais.
Um livro feito "no calor da hora" pode esfriar rapidamente. Em parte,
é o caso deste, de entrevistas com Noam Chomsky, o mais aguerrido
militante da esquerda norte-americana. As entrevistas foram feitas no
período de um mês, a partir dos atentados. Muitos fatos discutidos já
estão superados. Ainda assim, interessam a quem se disponha a entender os argumentos dos intelectuais, que, de dentro do "Império", percebem as vertentes suicidas da economia e da política externa americana.
A maior parte das entrevistas foi concedida a jornais de fora dos EUA, o
que comprova sua dificuldade em ser ouvido pelos norte-americanos.
Chomsky resgata momentos decisivos na formação do imperialismo
americano, seus mecanismos de censura, seus desejos de intervenção,
militares e econômicos. O diagnóstico sobre os descaminhos do processo político dos EUA é uma lição até mesmo para os intelectuais daqui, que resistem em pensar a América como um Estado imperialista
que determina sua própria crise. é professor do Instituto de Artes da UNESP. Texto Anterior: Ameaçada Próximo Texto: Vaso partido Índice |
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