São Paulo, sábado, 08 de junho de 2002

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Pós-nacional

A Constelação Pós-Nacional - Ensaios Políticos
Jürgen Habermas
Tradução de Márcio Seligmann-Silva
Littera Mundi (Tel. 0/xx/115561-5306)
220 págs., R$ 28,50

Coletânea de textos de diversas procedências que discutem o papel do Estado nacional, pressionado pelo contexto da globalização, bem como as formas e aporias do discurso cultural sobre os direitos humanos. Segundo Habermas, constelação "pós-nacional" caracterizaria uma época histórica e um Estado jurídico no qual boa parte dos processos sociais deixam de ter, nas fronteiras geopolíticas do Estado-nação, a delimitação de seu sentido e atuação. Diante dessa situação, uma das questões é saber se as ciências sociais ainda podem ser pensadas da mesma maneira ou se estão obrigadas a repensar todos os seus paradigmas, como quer certo discurso pós-moderno. Especialmente interessantes são os artigos finais, que se defrontam com o debate contemporâneo sobre a ética das experimentações genéticas.

O Mundo Não É uma Mercadoria - Camponeses contra a Comida Ruim
José Bové e François Dufour
Tradução: Angela Mendes de Almeida e Maria Teresa van Acker
Ed. Unesp (Tel. 0/xx/11/3242-7171)
258 págs., R$ 30,00

Se você pensa que José Bové não é mais que um camponês parrudo, tacanho defensor de interesses "atrasados", este livro lhe é indicado. Nessas longas entrevistas, pode-se acompanhar a história recente numa visão privilegiada. Bové (bem como François Dufour) está no centro do furacão crítico ao neoliberalismo. De Seattle a Porto Alegre, da discussão sobre o protecionismo e a assimetria entre países ricos e pobres, passando pela barbárie político-tecnológica dos alimentos transgênicos (cujo objetivo é transformar as sementes em monopólio privado e, assim, garantir a fome para os pobres) e pela "macdonaldização" dos estômagos e dos cérebros, quase tudo que é importante nesta nova era passa pela lente desse pensador-agricultor. Uma lente que, focada a partir da utopia da mesa farta e sadia, imagina um mundo melhor e enxerga com clareza seus inimigos, como a OMC e o FMI.

O Fim da Utopia - Política e Cultura na Era da Apatia
Russell Jacoby
Tradução: Clóvis Marques
Record (Tel. 0/xx/21/2585-2000)
300 págs., R$ 30,00

Russel Jacoby é um autor dado a discursos terminais. Sua obra mais famosa, "Os Últimos Intelectuais", versa sobre o encerramento de uma tradição intelectual boêmia e engajada. Neste novo livro, encara outro fecho: o fim das utopias. Embora sua capacidade para criar teorias ou alternativas a esse estado cataclísmico seja discutível, sua prodigiosa habilidade em levantar questões e mapear as origens dos impasses contemporâneos é invejável. Com maestria, apresenta, discute e ataca as novas modas e vertentes intelectuais neoliberais, globalizantes, particularistas, pragmatistas, "multiculturalistas", normalmente endossadas por antigos "radicais" e esquerdistas arrependidos. Trata-se de um apelo em favor de uma nova vontade utópica, ciente de seus erros e limites, que demonstra que no coração da América de Bush pulsa forte um desejo em favor do radicalismo e do inconformismo, como tarefa e missão dos intelectuais.

11 de Setembro
Noam Chomsky
Tradução: Luiz Antonio Aguiar
Bertrand Brasil (Tel. 0/xx/21/2585-2070)
160 págs., R$ 19,00

Um livro feito "no calor da hora" pode esfriar rapidamente. Em parte, é o caso deste, de entrevistas com Noam Chomsky, o mais aguerrido militante da esquerda norte-americana. As entrevistas foram feitas no período de um mês, a partir dos atentados. Muitos fatos discutidos já estão superados. Ainda assim, interessam a quem se disponha a entender os argumentos dos intelectuais, que, de dentro do "Império", percebem as vertentes suicidas da economia e da política externa americana. A maior parte das entrevistas foi concedida a jornais de fora dos EUA, o que comprova sua dificuldade em ser ouvido pelos norte-americanos. Chomsky resgata momentos decisivos na formação do imperialismo americano, seus mecanismos de censura, seus desejos de intervenção, militares e econômicos. O diagnóstico sobre os descaminhos do processo político dos EUA é uma lição até mesmo para os intelectuais daqui, que resistem em pensar a América como um Estado imperialista que determina sua própria crise.

FRANCISCO ALAMBERT



é professor do Instituto de Artes da UNESP.



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