São Paulo, sábado, 09 de novembro de 2002

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Nossa TV

O Império do Grotesco
Muniz Sodré e Raquel Paiva
Mauad (Tel. 0/xx/21/2533-7422)
154 págs., R$ 28,00

Muniz Sodré retoma, em co-autoria com Raquel Paiva, o tema de seu "Comunicação do Grotesco". O novo tratamento é oportuno, adequado a tempos em que o popularesco volta a dar a tônica da programação televisiva e os "reality shows" como que confirmam e dão continuidade a elementos que ele detectou com propriedade nos primórdios da televisão brasileira. O livro parte de uma discussão, no âmbito da estética e da dramaturgia, sobre a definição de grotesco, para terminar em mapeamentos empíricos concretos na literatura, no cinema e na televisão. A estética emerge aqui como campo de manifestações sensíveis que não se limita à arte. Com um instrumental que alude a Mikhail Bakhtin e aos linguistas pragmáticos do Círculo de Praga, os autores enfrentam, no final do livro, a análise de programas da TV brasileira, com destaque para figuras como Chacrinha e Ratinho. Eventos que marcaram a trajetória de nossa TV, como aparições de Seu Sete em programas de auditório durante o governo Médici, também são mencionados, em conexão com o grotesco e com padrões estéticos associados a determinados segmentos sociais e configurações ideológicas e políticas.

O Autor na Televisão
Lisandro Nogueira
Ed. UFG/Edusp (Tel. 0/xx/11/3091-4008)
148 págs., R$ 15,00

O cinema moderno nasceu em torno da idéia de autoria. O grupo que se aglutinou nos "Cahiers du Cinéma" fez a "nouvelle vague", dialogou com o cinema clássico e com os cinemas nascentes, chamou a atenção para a possibilidade do desenvolvimento de estilos pessoais no produto audiovisual industrial. Alfred Hitchcock e Douglas Sirk são alguns dos "autores" hollywoodianos celebrados pela reflexão e pelo trabalho de "autores" europeus como André Bazin, François Truffaut ou, uma década depois, Rainer Werner Fassbinder. No Brasil, como alhures, a teledramaturgia não se beneficiou da mesma atenção conceitual que o cinema. O livro de Lisandro Nogueira discute essa lacuna elegendo como referência a telenovela brasileira. Tomando o trabalho de Gilberto Braga como exemplo principal -especialmente "O Dono do Mundo", uma novela que foi reformulada para fazer frente à acentuada queda de audiência-, Lisandro defende a força da autoria na televisão. O livro é rico em informações sobre o processo de criação de um grande teledramaturgo contemporâneo.

Showrnalismo - A Notícia como Espetáculo
José Arbex Jr.
Casa Amarela (Tel. 0/xx/11/6846-4630)
290 págs., R$ 30,00

Com base em sua própria experiência como correspondente internacional, testemunha de alguns dos eventos históricos mais significativos do final do século 20, como a queda do Muro de Berlim ou a perestroika, José Arbex reflete sobre a lógica que rege o jornalismo contemporâneo. Calçado em um estilo ensaístico ágil, Arbex especula sobre as regras que produzem espetáculos para consumo cotidiano ao redor do mundo -no cinema, na televisão, no jornalismo e na ficção. Na linha de "Sobre a Televisão", de Pierre Bourdieu, e dialogando com uma bibliografia ampla e eclética, Arbex aborda criticamente aspectos formais e econômicos da mídia contemporânea. O livro discute os mecanismos convencionais de construção da notícia embutidos em decisões editoriais guiadas por lógicas empresariais e de poder. Arbex aponta a concentração crescente de empresas em conglomerados com atuação global e em áreas tão díspares -ou talvez nem tanto- quanto as indústrias bélica e televisiva.

Os Exercícios do Ver - Hegemonia Audiovisual e Ficção Televisiva
Jesús Martín-Barbero e Germán Rey
Tradução: Jacob Gorender
SENAC (Tel. 0/xx/11/3284-4322)
182 págs., R$ 21,00

Os autores sistematizam o estado das artes na teledramaturgia colombiana, mas, antes do exame de obras específicas, especulam sobre o estatuto do audiovisual no continente latino-americano. Salientam a operação de deslocamento temático-espacial que o meio televisivo realiza, ao escapar do controle hierárquico de instituições "tradicionais" como a família, a escola ou o partido político, acostumadas a um modelo pedagógico de comunicação. Mais do que criar conteúdos, como sugere Meyrowitz, a televisão operaria deslocamentos de repertórios, capazes de desorganizar práticas que confinam assuntos a determinados segmentos de idade, gênero ou classe. Ao tornar repertórios restritos acessíveis a públicos amplos, a televisão acenaria com a possibilidade de inclusão. Na América Latina onde a cultura letrada funciona há séculos, entre outras coisas, como repositório restrito, o audiovisual adquire potencial específico. Entrando nos meandros das formas audiovisuais predominantes no continente, os autores avançam a hipótese que relaciona a insistência na estrutura do melodrama com a reiterada busca de identidade que caracteriza os países do Novo Mundo, de colonização ibérica, marcados pela miscigenação.

ESTHER HAMBURGER
é antropóloga e professora da Escola de Comunicação e Artes da USP.

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