|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Três batutas
A Era dos Festivais - Uma Parábola
Zuza Homem de Mello
Ed. 34 (Tel. 0/xx/11/3816-6777)
528 págs., R$ 54,00
Com este livro, o leitor brasileiro tem, finalmente, acesso a um material de grande substância sobre um dos tempos mais férteis da música e da cultura brasileiras: os anos 60 e seus festivais de música popular. O autor ocupa lugar especial em sua parábola; ele estava lá, nos
bastidores, trabalhando, dividindo expectativas, estratégias, angústias e alegrias. Disseca cada um dos festivais que aconteceram entre
1960 e 1972, apresentando as idéias que os fizeram surgir, as personagens e as articulações que os tornaram possíveis, o rol dos selecionados, vencedores, compositores e intérpretes. Comenta a mise-en-scène dos grandes dias, a tensão, as disputas, os aplausos, as vaias.
Além de sua memória farta, o autor recorre a amplo repertório de
documentos, fatos e entrevistas. Mas a abordagem teria outra dimensão não fosse o que surge como coadjuvante: a história de um
primeiro grande momento da televisão brasileira (incluindo um perfil de seus executivos e de alguns de seus interesses), que apesar de jovem já produzia artistas para o "show business". E ainda uma saborosa crônica da vida noturna paulistana, com seus bares e boates do
centro da cidade, transbordando música brasileira, em seus vários
estilos. Ao sintonizar sua cronologia dos festivais com a situação política vigente, reaviva uma equação quase esquecida: o que a música
popular tinha de mais substancioso foi aos poucos se esvaindo conforme acentuava a dureza do regime ditatorial, até estabelecer, sobretudo no pós-68, relações cada vez mais explícitas com os interesses do mercado. Um livro que faz sentir saudades do Brasil.
Música Impopular
Júlio Medaglia
Global (Tel. 0/xx/11/3277-7999)
280 págs., R$ 39,00
Um grande fascínio pelo século 20 impulsiona o maestro Júlio Medaglia a traçar amplo e instigante panorama da música e da cultura desse
tempo. A vertente escolhida é a da ruptura, e por ela desfilam personagens e movimentos que, de várias formas, enfrentaram a tradição (como a expressa na lógica tonal), questionaram o estabelecido e, de sentidos abertos para a velocidade das mudanças, com antenas sintonizadas, propuseram o novo, gerando revoluções estéticas e culturais. Na civilização ocidental, de Debussy a Cage e ao rock and roll; no âmbito nacional, de Villa-Lobos ao tropicalismo, nada escapa da vereda aberta
por Medaglia. Como sujeito privilegiado do cenário que descreve, produz uma espécie de "livro de autor", que traz também relatos de experiências, opiniões sobre os rumos da MPB, críticas mordazes à produção pautada pela indústria cultural, esta mesma, que, nos anos 60, teria
se apresentado como um provável instrumento de transformação cultural. O prefácio de Décio Pignatari desperta a possibilidade de apreender o livro como manifesto de uma geração, a que inicia intensa atividade no final dos anos 50, sustentada por uma idéia de cultura ampliada,
já mundializada, em que os elementos nacionais são elos para o exercício de uma arte comprometida com o conhecimento e com a liberdade.
Assim parece ser a música, para o autor, quase uma entidade, dotada de
grande poder transformador, capaz de sobreviver a todos os percalços
da história, mas que chega ao século 21, depois de todos os avanços do
passado, esperando dos homens a possibilidade de libertá-la e de
emancipá-la da diluição imposta pela indústria cultural.
Rogério Duprat - Sonoridades Múltiplas
Regiane Gaúna
Ed. Unesp (Tel. 0/xx/11/3242-7171)
217 págs., R$ 29,00
Regiane Gaúna apresenta o maestro e compositor Rogério Duprat
por meio da reconstituição de seu perfil biográfico e profissional. Sua
trajetória abrange tanto o universo da música popular como, no âmbito do erudito, o interesse e o exercício da "música de vanguarda". A
intensa atividade nessas áreas culmina na participação em dois movimentos da maior importância para a música brasileira, a música
nova e o tropicalismo. Além da dimensão histórica, as obras musicais produzidas em tais movimentos recebem tratamento analítico,
na busca das particularidades de seu estilo musical. O livro tem um
tom especial, provavelmente derivado do fato de a autora ter contado com o auxílio luxuoso do próprio Duprat, que lhe concedeu várias entrevistas, além de possibilitar o uso de documentos de seu arquivo pessoal. Do contato que une a pesquisadora criteriosa ao objeto complexo, "arisco" (no dizer de Luiz Tatit) surge um livro raro,
que aproxima e distende o foco na medida a deixar transparecer o cenário, sempre carente de intervenções nutritivas como as de Duprat.
MARCIA TOSTA DIAS
é pesquisadora do Centro de Documentação e Memória da Universidade Estadual
Paulista e autora de "Os Donos da Voz - Indústria Fonográfica
Brasileira e Mundialização da Cultura" (Boitempo).
Texto Anterior: O outro somos nós Próximo Texto: Som nacional forasteiro Índice
|