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São Paulo, sábado, 12 de abril de 2003

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Economia e política


O Vôo da Coruja
José Luís Fiori
Record (Tel. 0/xx/21/2585-2000)
208 págs., R$ 25,00


O novo livro de José Luís Fiori é um texto antigo, sua tese de doutoramento, defendida na USP em 1985, publicada com modificações apenas de estilo. Não deixa de causar espanto que o conteúdo pareça recém-saído do forno. A primeira parte, metodológica -por meio da abordagem de Weber, Keynes, Braudel e da tradição marxista- ensaia um caminho para entender o presente histórico à luz da temporalidade histórica mais longa. Conjuntura e ciclo são os eixos teóricos da revisão da história brasileira, esboçada na segunda parte. Fiori amarra as pontas da análise econômica e da interpretação política, associando o padrão de acumulação do capitalismo brasileiro ao Estado desenvolvimentista, gestado como um compromisso entre facções dominantes, a partir da Primeira Guerra (1914-18). Esse imbricamento explica a facilidade com que dificuldades econômicas desdobram-se em crises políticas.
A terceira parte, análise da conjuntura no calor da hora, arrisca um prognóstico, na época notável: não se tratava apenas de uma crise do Estado autoritário, mas do esgotamento do próprio ciclo desenvolvimentista. O prefácio e o posfácio, escritos em 2003, esclarecem o ponto de vista do autor no exame dos ciclos brasileiros e de suas articulações com as modificações da hegemonia no sistema mundial. Avesso ao liberalismo monetarista e ao desenvolvimentismo conservador, Fiori insere-se na vertente reformista que defende um projeto de desenvolvimento nacional, popular e democrático.



Desenvolvimento em Crise
Ricardo Carneiro
Unesp/Instituto de Economia da Unicamp (Tel. 0/xx/11/3242-7171)
424 págs., R$ 35,00


Trata-se de uma reconstituição passo a passo, ou melhor, década a década, da história econômica brasileira nos últimos 25 anos. Carneiro examina as premissas teóricas do dinamismo do desenvolvimento na periferia, a interdependência entre condicionantes externos e internos do crescimento, não de forma abstrata, mas em seus desdobramentos históricos. O resumo das controvérsias na interpretação de determinada época faz-se acompanhar em geral por uma descrição factual que elucida a questão. Cada período configura modalidades distintas de autonomia financeira e tecnológica, bem como de atuação do Estado. Na segunda metade dos anos 70, o surto de crescimento impulsionado pelo segundo PND (Plano Nacional de Desenvolvimento) não conseguiu suplantar duas deficiências crônicas da economia brasileira, as dependências tecnológica e financeira. A crise da dívida, desdobrada em crise do Estado na década de 80, promoveu uma maciça transferência de recursos para o exterior, matriz da persistente estagnação econômica do período. Nos anos 90, a globalização financeira possibilitou a estabilidade da inflação pelo aprofundamento da vulnerabilidade externa, dificultando o crescimento. Moral da estória: a progressiva perda de autonomia da política econômica decorre não apenas de um sistema mundial hierarquizado, mas também das opções políticas do país.



Depois da Queda
Luiz Gonzaga Belluzzo e Júlio Gomes de Almeida
Civilização Brasileira (Tel. 0/ xx/21/2585-2000)
412 págs., R$ 46,00

Na contramão das análises correntes -em geral aplicações do monetarismo com pitadas de ecletismo-, este livro propõe-se a examinar a economia brasileira nos últimos 20 anos segundo a perspectiva keynesiana. A primeira parte reconstitui alguns parâmetros dessa doutrina, em particular sua teoria da moeda e da riqueza em situações de crise. Um primeiro resultado desse acerto de contas conceitual é a distinção entre crise econômica e crise de Estado. A política econômica de ajustamento, adotada entre 1980 e 1984 em reação ao aumento exponencial da dívida externa, realimentou tanto uma como outra, moldando um padrão persistente de instabilidade e incerteza, cujo sinal mais evidente foi a perda de confiança na moeda. Ao longo dos anos 80, a política monetária só conseguiu evitar a hiperinflação por meio da criação do "dinheiro indexado".
Apesar do fracasso econômico e político do Plano Collor, a radicalidade da intervenção promovida altera substancialmente a situação financeira do setor público, premissa indispensável ao sucesso do Plano Real em restaurar a confiança na moeda. A conjugação de abertura comercial, sobrevalorização cambial e taxas reais de juros elevadas, no entanto, gerou déficits públicos e externos crescentes. A esse desequilíbrio estrutural soma-se uma distribuição de renda e riqueza desfavorável aos agentes responsáveis pela ampliação do setor produtivo.

RICARDO MUSSE

é professor de sociologia na USP.


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