São Paulo, sábado, 12 de outubro de 2002

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O que é república?

Diálogo em Torno da República - Os Grandes Temas da Política e da Cidadania
Norberto Bobbio e Maurizio Viroli
Campus (Tel. 0/xx/21/2509-5340)
136 págs., R$ 25,00

Este diálogo é o resultado de uma série de conversas sobre temas políticos entre Noberto Bobbio e Maurizio Viroli, professor de história das idéias na Universidade Princeton (EUA). As conversas não obedeceram a um roteiro prévio -os temas abordados vão nascendo uns dos outros, ao sabor de convergências, divergências e de uma forte preocupação com a possibilidade de ocorrerem mudanças de profundidade na cena contemporânea, capazes de afetar o núcleo e a substância das instituições, os valores e princípios que servem de substrato às sociedades democráticas. O diálogo está orientado em torno de uma expectativa comum: a de que um grande número de problemas que hoje aflige essas sociedades pode ser tratado a partir do retorno ao horizonte de idéias em que se movimentam as várias tradições do republicanismo. No entender de Bobbio, república é apenas um ideal retórico fundado no amor da pátria e na virtude dos cidadãos. No argumento de Viroli, república é "res publica": algo que pertence ao povo quando organizado em uma comunidade política que tem por fundamento a observância da justiça, a comunhão de interesses e a definição dos modos de agregação e uso do bem público. Mas, em ambos os casos, recorrer à república fornece a entrada para flagrar a preocupação principal dos autores: devolver densidade à idéia de interesses partilhados, de ação pública dos cidadãos, de solidariedade política e de virtudes civis é decisiva para o futuro da democracia nas sociedades contemporâneas.

República no Catete
Maria Alice Rezende de Carvalho (org.)
Museu da República
(Tel. 0/xx/21/2558-6350)
177 págs., R$ 29,00

Em um país como o Brasil, que não conheceu uma experiência capaz de ser legitimamente chamada de republicana, o que vem a ser a república? Para responder a indagação, este livro recupera o panorama histórico e político dos governos republicanos brasileiros, desde a formação da república até o esforço de modernização e alargamento do pacto republicano sob condições democráticas, que culminou com o governo de Juscelino Kubitschek.
São cinco ensaios excepcionais que indicam as condições históricas de retração do republicanismo no país. No primeiro, argumenta Renato Lessa, a idéia de ausência parece ter aderido fortemente aos acontecimentos da Proclamação para indicar a característica de um experimento político que costuma ser interpelado não por suas virtudes positivas, mas pelo seu vazio.
Um vazio que permite às oligarquias inventar e consolidar um sistema de poder capaz de gerenciar seus conflitos internos e deixar o povo de fora, analisa, no ensaio seguinte, José Murilo de Carvalho. Ou, então, um vazio que permite a projeção de formas políticas muito autoritárias trazidas ao moderno pela república -seja nos impasses de uma república liberal em meio à Revolução de 30, como observa Maria Alice Carvalho; seja na completa perda da autonomia da sociedade quanto ao Estado a partir do golpe de 1937, como argumenta Luiz Werneck Vianna; seja ainda na compreensão do torto caminho que separa a Petrobras, forma simbólica do nacionalismo no segundo governo Vargas, do modelo desenvolvimentista de Brasília, como sugere César Guimarães.

O Cidadão Está nas Ruas - Representações e Práticas acerca da Cidadania Republicana em Porto Alegre (1889-1991)
Ricardo de Aguiar Pacheco
Ed. UFRGS (Tel. 0/xx/51/3224-0327)
137 págs., R$ 12,00

"O Cidadão está nas Ruas" explora um traço característico do republicanismo moderno: sua capacidade de abrir passagem à vida política, de dar nova figura ao status de cidadão e aos direitos de cidadania. Em uma república como a brasileira, que emergiu em 1889 sem a vocação da incorporação da sociedade e foi construída por homens de frágeis convicções republicanas, o livro recupera, na vida política de Porto Alegre do final do século 19, um cenário onde pretende reler parte da turbulência dos primeiros anos da experiência republicana no Brasil.
Entre a data da Proclamação da República (15/11/1889) e a promulgação da Constituição Estadual (14/07/1891), Porto Alegre pareceu descobrir a presença política de uma população heterogênea, interessada em manifestar publicamente seus interesses, capaz de adotar o discurso da república e transformar a rua no símbolo dessa adoção. Para enfatizar a importância dessa rua em que a cidade vai-se revelando como valor fundamental de socialização, de apego e de projeção da conduta do cidadão, o livro reconstitui um percurso político marcado por passeatas, marchas e festas cívicas, comícios e atos de protesto que contrasta com a posição do povo no resto do Brasil durante a primeira quinzena republicana. Faltou porém investigar mais detidamente as marcas deixadas pelos positivistas no desempenho cívico da população de Porto Alegre bem como as razões pelas quais não basta à cidade, e ao país, a construção histórica do experimento republicano. É necessária uma república de cidadãos que tenham também a mentalidade de cidadãos.

HELOISA STARLING
é professora de história das idéias na Universidade Federal de Minas Gerais e autora de "Lembranças do Brasil" (ed. Revan).

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