São Paulo, sábado, 13 de maio de 2000


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Benjamin polissêmico



O Iluminismo Visionário - Benjamin, Leitor de Descartes e Kant
Olgária C.F. Matos
Brasiliense (Tel. 0/xx/11/218-1488)
184 págs., R$ 18,40


Reimpressão de um dos livros mais expressivos da recepção crítica da obra de Walter Benjamin no Brasil, composto por quatro ensaios filosóficos -um tipo de texto que desconfia do sentido definitivo das idéias e das coisas e escolhe captar o transitório, o heterogêneo, o dissonante como um diagnóstico da ciência e um método para a história. A opção pelo ensaio como forma de exposição permite a Olgária Matos acompanhar a engenhosa linha de fios e tramas que une poesia, história e pensamento crítico, reabilitando a imaginação em suas imagens dialéticas como categoria central da obra de Walter Benjamin.
Esse percurso fornece uma das entradas possíveis para flagrar a questão principal do livro: a presença de uma razão analítica controladora e autocontroladora, determinada a abolir o imprevisto da vida dos homens, contra a qual se insurge Benjamin. Assim, os três primeiros ensaios procuram delinear uma nova figura de racionalidade que dê conta, a um só tempo, de reabilitar o sensível, confrontar-se com o acaso e acolher a imaginação. O último analisa uma situação de risco -e o perigo de eliminar com ela a possibilidade de escolha, dissolvendo o campo do humano em que a liberdade sempre foi conhecida.



Alegorias da Dialética - Imagem e Pensamento em Walter Benjamin
Kátia Muricy
Relume Dumará (Tel. 0/xx/21/564-6869)
243 págs., R$ 25,00


Após "A Razão Cética" (1988), ensaio sobre um Machado de Assis crítico quanto ao valor da ordem e da medida da razão iluminista e de seu projeto de modernidade, Kátia Muricy publica uma delicada incursão nos escritos de Walter Benjamin. Nessa sua leitura, a filosofia é vista em afinidade com a tradução e ambas se aproximam no espaço da linguagem -a rigor, uma e outra são experiências da diferença, vale dizer, são experiências dos limites da linguagem.
É por esse motivo que a alegoria, uma forma filosófico-literária de longa estirpe, recebe tanta atenção no texto de Kátia Muricy. De fato, a alegoria é uma forma particular e fragmentária de escrita por imagens de natureza ambígua: ela é, sobretudo, um signo dialético de valoração e desvalorização, que possibilita identificar no despedaçamento alegórico do Barroco o cenário fantasmagórico da modernidade. Ao eleger esse caminho, Kátia Muricy não demonstrou nenhuma pretensão à objetividade entendida como exatidão; ao contrário, concentrou todo seu esforço para encontrar uma harmonia entre a obra lida e a apropriação muito peculiar de seu sentido, entre o ritmo intermitente do pensamento e da escrita.



Leituras de Walter Benjamin
Márcio Sellgmann-Silva (org.)
Annablume (Tel. 0/xx/11/212-6764)
208 págs., R$ 20,00


Essa coletânea, apresentada como a primeira obra coletiva sobre Walter Benjamin publicada no Brasil em forma de livro, pretende interpretar seus escritos a partir de um veio ainda muito específico no contexto intelectual brasileiro -o do conceito benjaminiano de leitura e seu método de abordagem do texto, que inclui a estética do fragmento, a dialética da montagem/ desmontagem e os procedimentos de ruptura, interrupção, citação e superposição de modelos.
Como resultado da escolha desse veio, tradução, crítica e comentário representam aspectos da visão de um autor que elege o texto de maneira total e contempla sempre mais de um repertório de leitura sobre uma mesma história -o que, por sua vez, ajuda a entender o espaço caracteristicamente contemporâneo que a obra de Benjamin ocupa hoje, graças a essa singular associação entre a reflexão filosófica, histórica, política e a teoria da arte e da crítica de arte. Apesar de a maior parte dos artigos indicar a polissemia benjaminiana, está concentrada no ensaio de Willi Bolle a opção pela leitura que resgata aquilo que Hannah Arendt indicou como uma das marcantes características dos escritos de Walter Benjamin -sua extraordinária capacidade de, sem ser poeta, pensar poeticamente.



Passagem de Walter Benjamin
Pierre Missac
Tradução: Lilian Escorel
Iluminuras (Tel. 0/xx/11/3068-9433)
255 págs., R$ 26,00


Único título que foge ao mundo acadêmico, o texto de Pierre Missac é uma tentativa de apreender mimeticamente o método de pensamento do amigo com quem conviveu em Paris, nos conturbados anos finais da década de 30, e a quem dedicou seu único livro. Daí a sugestão de ambiguidade na palavra-chave "passagem" do título. Com ela, Missac indica a intenção de ler o projeto historiográfico benjaminiano por entre a constelação de múltiplos sentidos que o organiza, no esforço de descrever a fisionomia da modernidade com imagens.
De fato, "passagem" pode certamente significar a construção de um caminho de orientação para o leitor nesse projeto labiríntico, vasto, difícil e inacabado, exposto por Walter Benjamin em seus escritos. Mas "passagem" sintetiza igualmente sua estética -e, na "Obra das Passagens", o termo é, ao mesmo tempo, configuração arquitetônica-urbanística, corte e interrupção de texto, alegoria do tempo histórico. Ou, talvez, como apresenta Missac, "passagem" seja travessia, um finíssimo movimento de linguagem entre a possibilidade do sentido e o silêncio, que faz aflorar a história de uma época nas ruas imaginadas de uma cidade.


HELOÍSA STARLING

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