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Perene e efêmero
O Dia de um Escrutinador
Italo Calvino
Tradução: Roberta Barni
Companhia das Letras (Tel. 0/xx/11/3707-3500)
96 págs., R$ 22,00
Escrito ao longo de dez anos (1953-1963), "O Dia de um Escrutinador" foi concebido como parte de uma trilogia que Italo Calvino denomina "Meados de Século". Seria composta ainda de
"A Especulação Imobiliária" e "A Nuvem de Smog". Construídos como romances curtos, ou contos longos, como o autor
prefere chamá-los, são pouco conhecidos no Brasil, ao contrário
da trilogia "Os Nossos Antepassados" (composta de "O Visconde Partido ao Meio", "O Barão nas Árvores" e "O Cavaleiro Inexistente").
A diferença entre as duas trilogias reside na leveza que distancia uma da outra. "O Dia de um Escrutinador" é um romance, se
fosse possível dizê-lo, "naturalmente pesado", a partir da escolha de seus temas: comunismo, dor física e existencial, miséria
humana, deficientes físicos e mentais, alta e baixa política. De
forma rigorosa, esses e outros temas são tratados por vários ângulos, segundo as premissas do método dialético. Amerigo Ormea, o protagonista, é historiador e comunista em crise. Calvino
começou a escrever o livro quando ainda comunista e o concluiu já fora do Partido. "O Dia de um Escrutinador" traz um
pouco dessa transição.
A Lua e as Fogueiras
Cesare Pavese
Tradução: Liliana Laganá
Berlendis & Vertecchia (Tel. 0/xx/11/3085-9583)
182 págs., R$ 31,00
Último romance escrito e publicado ainda em vida por Cesare
Pavese (1908-1950). Como em "Os Mares do Sul", poema que
abre a coletânea "Trabalhar Cansa" (1936), "A Lua e as Fogueiras" conta momentos e sensações de um homem comum, um
bastardo que partiu para "fazer a América". Ao regressar, mesmo encontrando tudo mudado (ele, os outros e a riqueza), persiste, de forma sombria, o sentimento de que nada mudou. Daí,
talvez, o valor simbólico da Lua e das fogueiras, do perene e do
efêmero.
O ponto alto da narrativa são os diálogos entre o "americano"
e seu amigo comunista Nuto. Os conflitos existenciais de um
personagem duplamente desenraizado, que retorna rico, são
mediados pelas palavras seguras de um homem que conhece a
história de sua aldeia e que forma a partir dela sua cosmovisão.
A melancolia e o silêncio, característicos do texto pavesiano,
não permitem que o discurso de Nuto soe como tentativa de
convencimento, de rede em busca de adesão. Ao mesmo tempo,
a angústia do bastardo não é rebaixada a melindres de pequeno-burguês. Sem prejuízo de outras passagens, a frase-síntese do
drama pavesiano poderia ser a assertiva de Nuto: "Somos ignorantes demais neste lugar. Não é comunista quem quer".
Contos Dispersos: 1928-1951
Alberto Moravia
Tradução: Maria Helena Kühner & Giuseppe D'Angelo
Bertrand Brasil (Tel. 0/xx/21/2585-2087)
406 págs., R$ 48,00
"Contos Dispersos: 1928-1951" abriga um material heterogêneo, "esquecido" pelo autor em revistas e jornais. O próprio
Moravia, por várias vezes, já reunira contos desse período.
Também Enzo Siciliano coletara material dessa época, na organização de "Romildo", de 1993. Portanto "Contos Dispersos" é
fruto da escavação de um acervo já bastante explorado, e que,
como é inerente a esse tipo de trabalho, acaba por recuperar
tanto o texto menor como aquele que se equipara à mais alta
produção do autor.
A organização cronológica da coletânea não inviabiliza uma
aproximação temática entre os contos, como a do pequeno bloco que vai de "Vida no Estábulo" até "Fuga para a Montanha",
em que Moravia relata, em primeira pessoa, sua experiência de
fugitivo do fascismo, abrigando-se entre os camponeses italianos. Impressiona aí a descrição não edulcorada: "Tenho que dizer que, se tivesse querido julgar a maturidade política do povo
italiano por aquele pequeno mundo, teria tido razões de desespero. Os camponeses, todos analfabetos, não sabiam sequer o
que era o nazismo, o fascismo, a Alemanha ou a Inglaterra".
O Último Natal de Guerra
Primo Levi
Tradução: Maria do Rosário Toschi Aguiar
Berlendis & Vertecchia (Tel. 0/xx/11/3085-9583)
160 págs., R$ 28,00
"O Último Natal de Guerra" compreende seis relatos de cunho
memorialístico, testemunho dos horrores do campo de concentração nazista de Monowitz-Auschwitz, e 20 textos que, a rigor,
poderiam ser denominados contos. Todos, memória e ficção,
escritos e publicados entre 1977 e 1987, reunidos postumamente. Para os leitores habituais de Primo Levi, esses 20 contos, com
marcação forte na palavra, surpreenderão. Foram compostos
de acordo com os padrões próprios do gênero fantástico. Esticando a corda do poço sem fundo da taxinomia, talvez fosse
mais apropriado colocá-los entre uma das variantes do naturalismo, a do "naturalismo absurdo".
Nesse sentido, é exemplar "Jantar em Pé", conto que abre o livro. Um canguru, Innaminka, convidado para uma elegante
festa burguesa, tem dificuldades em andar, comer, beber e compreender o que dizem, sentem e pensam os outros convidados.
Innaminka é acometido pelo mal-estar da civilização, um mal-estar "absurdo".
ANSELMO PESSOA NETO
é autor de "Italo Calvino - As Passagens Obrigatórias" (Ed. UFG).
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