São Paulo, sábado, 14 de fevereiro de 2004 |
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A POÉTICA DA ECONOMIA
O pensamento e a obra de três importantes arquitetos brasileiros dos anos 70
Todos os que estudaram nas escolas de
arquitetura nos anos 70 viram-se envolvidos, voluntária ou involuntariamente,
em um debate fortemente polarizado e
maniqueísta entre duas correntes de
pensamento cujos protagonistas principais estavam ausentes. Vivíamos os anos
de chumbo da ditadura militar e alguns
dos mais expressivos arquitetos e professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, como Vilanova
Artigas, Paulo Mendes, Jon Maitrejean,
Sérgio Ferro e Rodrigo Lefèvre, estavam
afastados da escola, "aposentados", presos ou exilados pelos dispositivos autoritários.
Numa FAU "desorientada e dividida",
como qualificou o professor Carlos Martins no prefácio deste cuidadoso livro, as
correntes se expressavam por meio de
revistas: "Desenho" representava a posição dos "artiguistas", identificada com o
PCB e defensora do papel transformador
do projeto, e "OU" expressaria a posição
dos "ferristas", nas quais se alojavam as
correntes de esquerda que tinham rompido com o Partidão, por eles considerado reformista, buscando mais na organização política do que na prancheta as alternativas para o futuro da profissão e do
país. Embora tanto na política como na
profissão os objetivos de ambas as vertentes fossem os mesmos, democratizar
o país e ampliar o engajamento social da
arquitetura, os métodos e a linguagem as
separavam em polarização radicalizada.
A ausência dos mestres, a simplificação
e o esquematismo das posições em disputa, a falta de liberdades e a existência
de partidos clandestinos, que se camuflaram em correntes estudantis, fizeram
com que esse debate se centrasse mais na
política do que na reflexão sobre os rumos da arquitetura brasileira pós-Brasília, questão que estava na origem da prática e da teoria dos "ferristas". Estes ficaram, durante um bom tempo, injustamente identificados como se negassem o
projeto arquitetônico ou, até mesmo, a
própria profissão.
A dissertação de mestrado de Ana Paula Koury, agora transformada em livro,
tem o grande mérito de resgatar e desvendar, de forma inédita, o pensamento
e a obra do trio de arquitetos -Sergio
Ferro, Rodrigo Lefèvre e Flávio Império-, mostrando sua relevante contribuição para a arquitetura, cultura e debate intelectual brasileiros.
Discípulos de Artigas, no sentido de
absorver e reelaborar a linguagem e a
perspectiva política do mestre da arquitetura paulista, os três compartilharam,
durante os anos 1960, um escritório onde
colocaram em prática em seus projetos,
sobretudo de residências de classe média, o que eles mesmos definiram como
"poética da economia": o agenciamento
racional de experiências construtivas relativamente simples, cuja otimização dos
procedimentos tinha como objetivo aumentar o desempenho de produção e o
acesso à arquitetura.
NABIL BONDUKI é professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, vereador em São Paulo e autor de "Origens da Habitação Social no Brasil" (Estação Liberdade). Grupo Arquitetura Nova: Flávio Império, Rodrigo Lefèvre, Sérgio Ferro Ana Paula Koury Edusp/Romano Guerra Editora (Tel. 0/xx/11/3091-4008) 136 págs. R$ 39,00 Texto Anterior: Vozes dissonantes Próximo Texto: Pérolas barrocas Índice |
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