São Paulo, sábado, 14 de setembro de 2002

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Tem lógica?

Lógicas no Futebol
Luiz Henrique de Toledo
Hucitec/Fapesp (0/xx/11/5543-5810)
342 págs., R$ 42,00

Se a torcida continua em festa, embora meio sonolenta, como quem acordasse após um sonho triunfal, sem entender muito bem o que aconteceu, é hora de fartar-se na leitura, na tentativa de interpretar esse sonho. O primeiro livro que vem-nos à mão é um belíssimo tratado que nos apresenta a seguinte questão: futebol tem lógica? Tem tanta que a seleção do Felipão sagrou-se penta, quando, na véspera, era um deus-nos-acuda. Quem nos explica essa? O trabalho de Luiz Henrique nos conduz a esse mundo maravilhoso, que ganha matizes e significados os mais intrigantes, exatamente porque esse campo de investigação, o do futebol, lugar da emoção e do imponderável, tem os mais inusitados efeitos sobre os profissionais, os cronistas esportivos e a torcida, personagens de um espetáculo, cuja "mise-en-scène" aqui é do antropólogo. Apesar de muitos olhares desconfiados, o futebol vai chegando à academia para ficar, sem preconceitos, com mais uma contribuição que prima pelo rigor, pela investigação exaustiva e beleza de estilo, próprios de quem conhece as firulas do futebol e da escrita.

Futebol - Uma Paixão Nacional
Rubim Santos Leão de Aquino
Jorge Zahar Editor (0/xx/21/2240-0226)
205 págs., R$ 18,50

Desde a época pré-colombiana, na América Central, os maias já praticavam um jogo com bolas de borracha. A coisa era tão séria que os vencedores decapitavam os vencidos e continuavam o jogo, chutando-lhes as cabeças, no segundo tempo.
Chineses, japoneses, gregos e romanos da antiguidade também praticavam um esporte parecido com o que chega à Inglaterra no século 19, então regulamentado, e atinge os brasileiros que lá iam estudar e trazem para cá o que se tornou febre nacional. Dentre as preciosidades que a pesquisa de Aquino nos revela, destacamos a recusa de Rui Barbosa de viajar no mesmo navio da seleção brasileira que ia à Argentina, em 1916, por julgar que "futebolista é sinônimo de vagabundo" e que não viajaria com "essa corja de malandros", "ou eles ou eu" e as frases de alguns personagens do futebol, das quais Vicente Matheus é o grande campeão: "Está garoando torrencialmente"; "Depois da tempestade vem a ambulância". Ou então de Manga, goleiro do Botafogo: "O homem disse que se me suspenderem ele entra com um pedido de Corpus Christi para mim". De Nunes, ex-atacante do Flamengo: "Fiz que fui, não fui e acabei fondo!". De Jardel, ex-atacante do Grêmio: "Quando o jogo está a mil, minha naftalina sobe!". E de João Pinto, do Clube do Porto, de Portugal: "O meu clube estava à beira do abismo, mas tomou a decisão correta: deu um passo à frente".

Visão do Jogo - Primórdios do Futebol no Brasil
João Moraes dos Santos Neto
Cosac & Naify (Tel. 0/xx/11/3218-1444)
120 págs., R$ 16,00

Com belíssimas ilustrações, o autor vai narrando com muita simplicidade os primórdios do futebol, para convencer-nos de que a história de Charles Miller ter trazido o futebol para o Brasil não passa de um mito. Na verdade, já no Colégio São Luís, de Itu, desde 1894, os alunos disputavam partidas de futebol, pois os jesuítas haviam conhecido o esporte na Inglaterra e consideravam-no o mais adequado para seus objetivos de formação. Muitos alunos do colégio São Luís se encarregaram de levar o futebol para outros estados. Um fato interessante do livro, e que deve irritar profundamente os argentinos, é que, na primeira Copa Roca, vencida pelos brasileiros, houve um gol de mão da Argentina, que ia ser validado pelo juiz, mas um jogador argentino adiantou-se e revelou que o gol tinha sido de mão. Não é preciso dizer mais nada.

O Trauma da Bola - A Copa de 82 por João Saldanha
João Saldanha
Cosac & Naify (Tel. 0/xx/11/3218-1444)
208 págs., R$ 19,00

No meio de tanta euforia em torno da seleção de 1982, considerada uma das melhores após as de 58 e de 70, João Saldanha mostrava as falhas de preparação e de indecisão na escalação do time principal. Com vinhetas de Luiz Paulo Baravelli e lindas fotos da copa de 82, temos aqui a lucidez do espírito de porco, conhecedor profundo e apaixonado torcedor, figura admirável, que montou o time campeão de 70, um comunista convidado a treinar a seleção no tempo da ditadura militar. Pode uma coisa dessas?

Técnicos - Deuses e Diabos da Terra do Futebol
Luiz Octávio de Lima Camargo (org.)
Sesc Ipiranga (Tel. 0/xx/11/3340-2000)
184 págs., distribuição gratuita

Este catálogo da exposição que teve como curadores Jal e Gualberto Costa, no Sesc Ipiranga, traz as caricaturas de todos os técnicos da seleção brasileira, de Sylvio Lacreca a Felipão, reproduções de caricaturas desde 1922 e artigos de algumas figuras importantes do futebol e da crítica esportiva e acadêmica, como Armando Nogueira, Cacá Rosset, Carlos Alberto Parreira, Casagrande, Flávio Gikowate, Gual & Jal, José Guilherme Magnani, José Miguel Wisnik, Juca Kfouri, Luiz Henrique de Toledo, Orlando Duarte, Paulo Nassar, Roberto Da Matta, Ruy Castro, Soninha, Ugo Giorgetti e Zelio Alves Pinto. Com capa de Ziraldo, traz, de quebra, textos de Clarice Lispector, Eduardo Galeano e Nelson Rodrigues. A orelha dos técnicos do esporte do imponderável, que, por isso mesmo, é definido como "jogo", fica em brasa. Adianta fazer careta, esbravejar, terninho impecável para impressionar? Técnico bom era Vicente Feola, que dormia durante o jogo.
MILTON MEIRA DO NASCIMENTO



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