Índice geral Ribeirão
Ribeirão
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Dentro e fora das pistas

Em autobiografia, o piloto Helio Castro Neves fala da carreira e de momentos pessoais, como a suspeita de fraude nos EUA

DE RIBEIRÃO PRETO

O cenário é o grid de largada da Fórmula Indy em 2009, nos Estados Unidos. O zum-zum-zum do público, os motores acelerando, a voz do narrador anunciando as posições dos competidores. O brasileiro Helio Castro Neves está na pole position.

No instante seguinte, o clima alegre fica sombrio, dentro de uma corte. Em vez das posições no grid, o anúncio do caso: "Os Estados Unidos contra Helio Castroneves" -nos EUA, o piloto decidiu juntar seus dois sobrenomes.

O primeiro capítulo do livro autobiográfico "O Caminho da Vitória" (Editora Gaia, R$ 48) chama a atenção para um dos momentos mais angustiantes na carreira dele.

Processado por suspeita de evasão de divisas, Castro Neves enfrentou a Justiça americana e os holofotes da mídia até ser declarado inocente, em abril de 2009.

POP STAR

Três vezes vencedor nas 500 milhas de Indianápolis -único brasileiro a conseguir a marca-, Castro Neves era também conhecido pelo público de fora das pistas.

Em 2007, venceu a competição no programa "Dancing With The Stars" (Dançando com as Estrelas, em tradução livre) da TV norte-americana.

Ele disse que decidiu escrever a autobiografia para expor momentos pessoais e profissionais, ainda que tenha somente 36 anos de idade.

Segundo o piloto, a redação foi feita por ele, com o apoio da escritora norte-americana Marissa Matteo, que colheu depoimentos e costurou a história final. Revisado e autorizado, o livro foi publicado no ano passado nos EUA.

Agora, a autobiografia chega ao Brasil com lançamento previsto para o dia 5 de dezembro em Ribeirão Preto.

"Não queria que [o livro] ficasse focado no automobilismo, acho que alguém que está perdido pode se motivar após conhecer uma história de superação", disse.

DO CÉU AO INFERNO

Nascido em 1975 em São Paulo, criado em Ribeirão, onde ainda vive parte da família, e morando nos EUA, Castro Neves foi do céu ao inferno quando poderia celebrar seu bom momento.

Na versão contada por ele no livro, em 2000 o piloto oficial da Penske -uma das mais tradicionais equipes da Fórmula Indy-, Greg Moore, morreu em um acidente e o brasileiro foi convidado a assumir o posto que ficou vago.

Da negociação à assinatura do contrato, tudo foi decidido em 48 horas, disse.

Segundo Castro Neves, os advogados da equipe incluíram o nome dele no contrato do outro piloto, mas não alteraram a situação jurídica do brasileiro naquele país.

Com residência fixa nos EUA, Castro Neves assinou o contrato como se fosse estrangeiro, tal qual Moore, o piloto que havia morrido.

"Os contratos nesse esporte envolvem questões além do salário, como equipamentos, patrocínios. Houve um erro do advogado e tudo virou uma bola de neve", disse.

EVASÃO DE DIVISAS

Com isso, os impostos debitados de Castro Neves eram menores e a Justiça entendeu que tratou-se de uma manobra para a evasão de divisas.

O caso teve grande repercussão na mídia. Segundo a Folha publicou na época, o piloto, a irmã dele, Katiúcia, e o advogado Alan Miller responderam a sete acusações de associação ilícita e evasão.

Para o Fisco dos EUA, a fraude acontecia por meio de contratos de patrocínio de Castro Neves e dos salários pagos pela Penske.

O total da acusação de sonegação, entre 1999 e 2004, foi estimado em US$ 2,3 milhões. Ele chegou a ser in-

cluído em uma lista de sonegadores dos EUA, ao lado do mafioso Al Capone.

Uma empresa do pai de Helio Castro Neves também esteve envolvida no caso.

Como ambos têm o mesmo nome, a Justiça norte-americana creditou ao piloto a suspeita de sonegação da empresa do pai. Ao se revelar o verdadeiro dono da empresa, Castro Neves, o filho, foi absolvido e o pai não pode ser acionado na Justiça dos EUA.

Após seis semanas de julgamento, o trio foi absolvido de seis acusações. A sétima, de conspiração para fraudar o governo americano por sonegação, foi suspensa por falta de unanimidade no júri.

"A cicatriz nunca vai sair. Passei muito tempo pensando: 'Por que eu?'. Apesar disso, em nenhum momento eu perdi a fé", afirmou.

CARREIRA

Castro Neves estreou nas pistas aos 11 anos, no kart, onde foi campeão brasileiro.

Nessa modalidade, começou a jornada internacional em campeonatos pela Europa. Passou pela Fórmula 3 brasileira, sul-americana e inglesa até chegar à Indy.

No início da carreira, Castro Neves conta que teve o apoio da família, que bancava o esporte caro. "Perdemos a empresa da família porque meu pai se afastou da gerência e houve desvio de dinheiro."

Agora, o novo momento da carreira -e da vida- tem duas novas estrelas: a mulher Adriana e a filha Mikaella. "Conheci o amor incondicional", afirmou o piloto.

Se aos 36 anos Castro Neves publicou sua biografia, como pretende escrever a vida daqui para a frente?

"Quero bater o recorde de vitórias em Indianápolis [que são cinco], ter mais filhos e ensinar a eles tudo que meus pais me ensinaram", disse. (Elida Oliveira)

BIOGRAFIA

O CAMINHO DA VITÓRIA

Helio Castro Neves

Editora Gaia

Quanto R$ 48 (280 págs.)

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.