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154 ANOS ESTRANGEIROS
Apenas o sotaque une alemão a suas origens
Professor da USP de Ribeirão conta que ficou "mais leve e menos rígido'
Nem com brasileiros nem com alemães: pesquisador acha que taça da Copa da África vai ficar com italianos
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
DE RIBEIRÃO PRETO
Em 1982, quando veio pela
primeira vez ao Brasil, o professor Klaus Hartmann Hartfelder não poderia imaginar
a quantidade de milhas aéreas que acumularia no trajeto entre Ribeirão e Tuebingen, na Alemanha, cidade
onde se formou em biologia,
fez mestrado e doutorado.
Naquele ano, ao desembarcar para um intercâmbio
no Departamento de Genética da USP, o alemão mal sabia, mas estava selando seu
futuro nos trópicos e dando
início a sua vida em versão
tupiniquim.
Aos 28 anos, o professor
precisava aumentar o intercâmbio com pesquisadores
brasileiros para concluir seu
doutorado. Na primeira vez
em Ribeirão, ficou no Departamento de Genética da USP.
Do alto, pela janela do avião,
lembra de ter visto apenas
cana-de-açúcar.
Na faculdade, conheceu a
futura mulher, Maria José Alves da Rocha, professora de
fisiologia da Faculdade de
Odontologia -eles se casaram em 1985.
Nos anos seguintes ficariam separados, trabalhariam juntos e novamente se
separariam, até que, no final
da década de 90, a política
brasileira para aposentadorias mudou e professores começaram a debandar das
universidades públicas.
Foi quando, por acordos
firmados entre os governos
do Brasil e da Alemanha,
Klaus Hartfelder voltou novamente à USP de Ribeirão.
Morando há 12 anos na cidade, ele diz que a relação de
adoção já se sedimentou. A
rede de amigos, tanto acadêmicos quanto os de fora da
universidade, já é maior aqui
do que na Alemanha.
"Nunca cogitei deixar o
Brasil nem Ribeirão. Eu e minha mulher estamos muito
bem estabelecidos", disse.
Sua única crítica à cidade é
em relação à programação
dos cinemas.
De melhor, Hartfelder elegeu o Quarteirão Paulista, no
centro, o Theatro Pedro 2º e a
Orquestra Sinfônica Municipal de Ribeirão Preto como as
referências.
E como não poderia deixar
de ser, acabou respondendo
à inevitável pergunta se ainda se sente um alemão de origem ou um alemão adotado
pelo Brasil. "Hoje sou bem
mais leve, menos rígido, menos sério", avaliou. "Sinto-me brasileiro", afirma.
Mesmo assim, ele não
aposta no Brasil como campeão da Copa. Também não
escolhe o país natal. Acha
que a Itália leva o caneco.
(PAULO GODOY)
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