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Proposta é 'inconsequente', diz ex-editor

DE WASHINGTON

Há 15 anos, o psiquiatra americano Allen Frances coordenou a 4ª edição do DSM (manual de diagnóstico da Academia Americana de Psiquiatria) e ajudou a elaborar critérios que resultaram em uma "epidemia" de doenças mentais, como a do deficit de atenção e hiperatividade.

Em entrevista à Folha, Frances explica por que acha as propostas de mudança do DSM "inconsequentes".

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Folha - A força-tarefa que faz o manual está cedendo à pressão das farmacêuticas?

Allen Frances - As pessoas encarregadas das mudanças estão preocupadas com o risco de deixar pacientes sem apoio. Mas a indústria tem um marketing agressivo para explorar as mudanças. Muitos são ingênuos ao desconsiderar como suas propostas podem ser deturpadas.

Os critérios do manual não podem ser mais objetivos?

Diagnósticos psiquiátricos são baseados em critérios subjetivos, e pequenas mudanças podem incorrer em enormes variações entre quem é diagnosticado e quem é considerado normal.

Não seria melhor abandonar o manual?

Não. O problema é que os transtornos moderados são propensos a sofrer abuso. O DSM-5 é inconsequente ao sugerir propostas que vão rotular pessoas como portadoras de transtornos que elas provavelmente não têm. Nenhum dos novos transtornos está cientificamente estabelecido. Alguns podem ter uma incidência de 5% ou 10%. Num país com o Brasil, 7 milhões seriam diagnosticados com "transtorno misto de ansiedade-depressão".

O que mudou no jeito de elaborar o manual?

As pessoas na força-tarefa do DSM-5 trabalham em ambientes fechados de pesquisa e não têm ideia de como suas sugestões são deturpadas na vida real. Os clínicos gerais são muito influenciáveis pelo marketing da indústria farmacêutica, e a maior parte das drogas psiquiátricas nos EUA são receitadas por clínicos, não por psiquiatras.

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