São Paulo, sábado, 07 de março de 2009

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Tumor de mama é descoberto tarde no SUS

Pesquisa com 4.912 brasileiras mostra que rede pública de saúde usa quimioterápicos menos eficazes

DA REPORTAGEM LOCAL

Um levantamento com 4.912 mulheres com câncer de mama tratadas em 28 hospitais públicos e privados de 14 cidades brasileiras revela que 30% dos tumores ainda são diagnosticados em estágio avançado. Nos EUA, essa taxa é de 12%.
O trabalho é fruto de um estudo independente do Gbecam (Grupo Brasileiro de Estudos do Câncer de Mama), feito nos anos de 2001 e 2006, e será apresentado hoje durante conferência de câncer de mama, que acontece em São Paulo.
Um dos dados que chamam atenção é a confirmação de que as mulheres atendidas na rede pública de saúde estão em desvantagem em relação às do sistema privado. Em relação ao diagnóstico da doença, por exemplo, 36% das mulheres do SUS descobrem o tumor em estágio avançado, contra 16% nos serviços privados. Elas também são submetidas a mais mastectomias -retirada total das mamas (63% contra 48%).
A quimioterapia oferecida nos hospitais públicos também é de um tipo menos eficaz do que em hospitais privados, segundo o mastologista Sergio Daniel Simon, presidente do Gbecam e médico do Hospital Israelita Albert Einstein.
No SUS, usa-se menos antraciclinas e taxanos (drogas que aumentam as taxas de sobrevida) em relação aos privados: 13,8% contra 23,5%.
Na rede pública, a utilização de terapias biológicas no tratamento do tumor também é mínima -56% nos privados, contra 5,6% no SUS. Hoje, sabe-se que o uso de determinados anticorpos em pacientes com tipo de câncer de mama agressivo (chamado HER2 positivo) diminui em 50% a probabilidade de recidiva do tumor.
"Consequentemente, a sobrevida livre de doença e a sobrevida global nessas instituições são diferentes, com sobrevida inferior nos hospitais públicos", alerta Simon, reforçando que, além dos medicamentos, a demora para a realização de exames e cirurgias também pode ter um impacto na redução da sobrevida no sistema público de saúde.
Dados preliminares da pesquisa indicam que a sobrevida de pacientes do SUS que tiveram a doença diagnosticada em 2001 e foram reavaliados em 2006 foi 10% inferior em relação ao sistema privado.
Segundo o médico, uma verdadeira luta tem sido travada para incorporar esses novos remédios no SUS. "Desde 2005, alguns planos de saúde têm liberado esses medicamentos. O governo de São Paulo também ampliou a oferta, mas no resto do país a situação é lamentável", explica Simon.
A pesquisa também quebrou um mito entre os especialistas em câncer: que a mulher brasileira seria afetada pelo câncer de mama em idade mais jovem dos que as americanas. Os dados mostraram que no Brasil a idade média das mulheres com tumor de mama é 59,3 anos -nos EUA, é 61 anos.
No estudo, foram levantados ainda dados como os tipos de câncer, as características biológicas dos tumores e os tratamentos. (CLÁUDIA COLLUCCI)


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