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Tumor de mama é descoberto tarde no SUS
Pesquisa com 4.912 brasileiras mostra que rede pública de saúde usa quimioterápicos menos eficazes
DA REPORTAGEM LOCAL
Um levantamento com 4.912
mulheres com câncer de mama
tratadas em 28 hospitais públicos e privados de 14 cidades
brasileiras revela que 30% dos
tumores ainda são diagnosticados em estágio avançado. Nos
EUA, essa taxa é de 12%.
O trabalho é fruto de um estudo independente do Gbecam
(Grupo Brasileiro de Estudos
do Câncer de Mama), feito nos
anos de 2001 e 2006, e será
apresentado hoje durante conferência de câncer de mama,
que acontece em São Paulo.
Um dos dados que chamam
atenção é a confirmação de que
as mulheres atendidas na rede
pública de saúde estão em desvantagem em relação às do sistema privado. Em relação ao
diagnóstico da doença, por
exemplo, 36% das mulheres do
SUS descobrem o tumor em estágio avançado, contra 16% nos
serviços privados. Elas também
são submetidas a mais mastectomias -retirada total das mamas (63% contra 48%).
A quimioterapia oferecida
nos hospitais públicos também
é de um tipo menos eficaz do
que em hospitais privados, segundo o mastologista Sergio
Daniel Simon, presidente do
Gbecam e médico do Hospital
Israelita Albert Einstein.
No SUS, usa-se menos antraciclinas e taxanos (drogas que
aumentam as taxas de sobrevida) em relação aos privados:
13,8% contra 23,5%.
Na rede pública, a utilização
de terapias biológicas no tratamento do tumor também é mínima -56% nos privados, contra 5,6% no SUS. Hoje, sabe-se
que o uso de determinados anticorpos em pacientes com tipo
de câncer de mama agressivo
(chamado HER2 positivo) diminui em 50% a probabilidade
de recidiva do tumor.
"Consequentemente, a sobrevida livre de doença e a sobrevida global nessas instituições são diferentes, com sobrevida inferior nos hospitais públicos", alerta Simon, reforçando que, além dos medicamentos, a demora para a realização
de exames e cirurgias também
pode ter um impacto na redução da sobrevida no sistema público de saúde.
Dados preliminares da pesquisa indicam que a sobrevida
de pacientes do SUS que tiveram a doença diagnosticada em
2001 e foram reavaliados em
2006 foi 10% inferior em relação ao sistema privado.
Segundo o médico, uma verdadeira luta tem sido travada
para incorporar esses novos remédios no SUS. "Desde 2005,
alguns planos de saúde têm liberado esses medicamentos. O
governo de São Paulo também
ampliou a oferta, mas no resto
do país a situação é lamentável", explica Simon.
A pesquisa também quebrou
um mito entre os especialistas
em câncer: que a mulher brasileira seria afetada pelo câncer
de mama em idade mais jovem
dos que as americanas. Os dados mostraram que no Brasil a
idade média das mulheres com
tumor de mama é 59,3 anos
-nos EUA, é 61 anos.
No estudo, foram levantados
ainda dados como os tipos de
câncer, as características biológicas dos tumores e os tratamentos.
(CLÁUDIA COLLUCCI)
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