São Paulo, quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O texto abaixo contém um Erramos, clique aqui para conferir a correção na versão eletrônica da Folha de S.Paulo.

Uso errado de colírio gera alergia

Substância usada para tratar glaucoma está sendo aplicada, sem aprovação, para aumentar cílios

O produto pode provocar, entre outros problemas, alergias, inflamação e escurecimento dos olhos claros com dupla coloração

IARA BIDERMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Em busca de cílios longos, mais escuros e espessos, mulheres estão usando colírio para glaucoma que ainda não foi aprovado com esse uso pela FDA (agência americana reguladora de alimentos e medicamentos) e pode causar uma série de efeitos colaterais.
Apresentada no último encontro da Academia Americana de Dermatologia, em fevereiro, a nova promessa é baseada em um efeito bastante relatado de uma substância usada em colírio medicamentoso para glaucoma. A bimatoprosta (substância sintética análoga à prostaglandina, que, em baixa concentração, é capaz de baixar a pressão sangüínea intra-ocular) é comercializada em forma de colírio para controlar a progressão da doença. Como outros medicamentos, apresenta efeitos colaterais -fazer crescer os cílios é um deles.
Entre as outras reações adversas relatadas, estão alergia, inflamação e escurecimento dos olhos (veja nesta página).
O efeito cosmético da substância (vendida em algumas farmácias de manipulação) e do próprio colírio está sendo divulgado boca a boca. "Tem gente que não é da área médica recomendando bimatoprosta para fazer crescer cílios sem explicar do que se trata", diz Leôncio Queiroz Neto, oftalmologista do Instituto Penido Burnier, de Campinas (SP).
Ele tem um exemplo em sua própria casa: um papel com uma "fórmula", sugerida à sua mulher no cabeleireiro, para fazer crescer cílios e sobrancelhas. Entram na receita minoxidil e finasterida (substâncias usadas para perda de cabelo) e bimatoprosta, na mesma concentração usada no colírio para glaucoma - 0,3 mg.
A advogada Ana Luiza de Pádua Oliveira, 31, foi uma das mulheres que resolveram aplicar o produto por conta própria. Com olhos sadios e cílios de tamanho regular, ela recebeu a dica de uma amiga de infância que tem diagnóstico de glaucoma e indicação de uso do colírio. Por quase dois meses, Ana pingou o produto dentro do olho, como fazem os pacientes da doença.

Custo-benefício
O glaucoma é uma doença do nervo ótico, normalmente associada à diminuição da capacidade de regular a pressão sangüínea intra-ocular. Segundo Remo Susanna Jr., presidente da Associação Mundial do Glaucoma, atinge 70 milhões de pessoas no mundo todo. Não tratado, pode causar "cegueira negra" (na qual não se distingue nem a luz) irreversível.
A redução da pressão intra-ocular por meio de colírios com análogos de prostaglandina é o tratamento clínico estabelecido para controlar sua evolução, segundo Susanna Jr.
O oftalmologista diz que os efeitos colaterais das substâncias são conhecidos, mas, no caso de glaucoma, o benefício normalmente é maior do que o custo. Além da bimatoprosta, há duas outras substâncias usadas, com efeitos similares: lanatoprost e travoprosta. Das três, a bimatoprosta é a que tem um efeito mais marcante no crescimento dos cílios. "Também é a que mais causa olheiras e vermelhidão", diz Susanna Jr.
A dermatologista Isabella de Forneiro, membro da Academia Americana de Dermatologia, diz que o uso intra-ocular para fins puramente estéticos é contra-indicado, mas que estudos para encontrar uma formulação de uso tópico seguro para a bimatoprosta são promissores. "Funciona realmente [para o crescimento dos cílios]. Se conseguirem controlar os riscos, será uma alternativa excelente, inclusive para pessoas que têm patologias diagnosticadas como alopecia areata [perda de pêlos do corpo]."

Fabricante
A empresa farmacêutica Allergan, que detém a patente mundial da bimatoprosta e desenvolveu o cosmético com a substância para o crescimento dos cílios, disse à Folha, por meio de sua assessoria de imprensa, que o produto cosmético está em fase de análise e aprovação pela FDA. A previsão de chegada ao mercado brasileiro é em 2010.
A empresa reafirma que, antes das autorizações oficiais, usar o colírio medicamentoso para fins estéticos não é uma prática adequada, e que nenhum medicamento deve ser utilizado sem a aprovação dos órgãos regulatórios locais ou sem a orientação de um médico especialista.


Texto Anterior: O assunto é Câncer
Próximo Texto: Exame reduz risco de infecção em transfusão
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.