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Uso errado de colírio gera alergia
Substância usada para tratar glaucoma está sendo aplicada, sem aprovação, para aumentar cílios
O produto pode provocar, entre outros problemas, alergias, inflamação e escurecimento dos olhos claros com dupla coloração
IARA BIDERMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Em busca de cílios longos,
mais escuros e espessos, mulheres estão usando colírio para
glaucoma que ainda não foi
aprovado com esse uso pela
FDA (agência americana reguladora de alimentos e medicamentos) e pode causar uma série de efeitos colaterais.
Apresentada no último encontro da Academia Americana
de Dermatologia, em fevereiro,
a nova promessa é baseada em
um efeito bastante relatado de
uma substância usada em colírio medicamentoso para glaucoma. A bimatoprosta (substância sintética análoga à prostaglandina, que, em baixa concentração, é capaz de baixar a
pressão sangüínea intra-ocular) é comercializada em forma
de colírio para controlar a progressão da doença. Como outros medicamentos, apresenta
efeitos colaterais -fazer crescer os cílios é um deles.
Entre as outras reações adversas relatadas, estão alergia,
inflamação e escurecimento
dos olhos (veja nesta página).
O efeito cosmético da substância (vendida em algumas
farmácias de manipulação) e do
próprio colírio está sendo divulgado boca a boca. "Tem gente que não é da área médica recomendando bimatoprosta para fazer crescer cílios sem explicar do que se trata", diz
Leôncio Queiroz Neto, oftalmologista do Instituto Penido
Burnier, de Campinas (SP).
Ele tem um exemplo em sua
própria casa: um papel com
uma "fórmula", sugerida à sua
mulher no cabeleireiro, para fazer crescer cílios e sobrancelhas. Entram na receita minoxidil e finasterida (substâncias
usadas para perda de cabelo) e
bimatoprosta, na mesma concentração usada no colírio para
glaucoma - 0,3 mg.
A advogada Ana Luiza de Pádua Oliveira, 31, foi uma das
mulheres que resolveram aplicar o produto por conta própria. Com olhos sadios e cílios
de tamanho regular, ela recebeu a dica de uma amiga de infância que tem diagnóstico de
glaucoma e indicação de uso do
colírio. Por quase dois meses,
Ana pingou o produto dentro
do olho, como fazem os pacientes da doença.
Custo-benefício
O glaucoma é uma doença do
nervo ótico, normalmente associada à diminuição da capacidade de regular a pressão sangüínea intra-ocular. Segundo
Remo Susanna Jr., presidente
da Associação Mundial do
Glaucoma, atinge 70 milhões
de pessoas no mundo todo. Não
tratado, pode causar "cegueira
negra" (na qual não se distingue nem a luz) irreversível.
A redução da pressão intra-ocular por meio de colírios com
análogos de prostaglandina é o
tratamento clínico estabelecido para controlar sua evolução,
segundo Susanna Jr.
O oftalmologista diz que os
efeitos colaterais das substâncias são conhecidos, mas, no caso de glaucoma, o benefício
normalmente é maior do que o
custo. Além da bimatoprosta,
há duas outras substâncias usadas, com efeitos similares: lanatoprost e travoprosta. Das
três, a bimatoprosta é a que tem
um efeito mais marcante no
crescimento dos cílios. "Também é a que mais causa olheiras
e vermelhidão", diz Susanna Jr.
A dermatologista Isabella de
Forneiro, membro da Academia Americana de Dermatologia, diz que o uso intra-ocular
para fins puramente estéticos é
contra-indicado, mas que estudos para encontrar uma formulação de uso tópico seguro para
a bimatoprosta são promissores. "Funciona realmente [para
o crescimento dos cílios]. Se
conseguirem controlar os riscos, será uma alternativa excelente, inclusive para pessoas
que têm patologias diagnosticadas como alopecia areata
[perda de pêlos do corpo]."
Fabricante
A empresa farmacêutica
Allergan, que detém a patente
mundial da bimatoprosta e desenvolveu o cosmético com a
substância para o crescimento
dos cílios, disse à Folha, por
meio de sua assessoria de imprensa, que o produto cosmético está em fase de análise e
aprovação pela FDA. A previsão de chegada ao mercado
brasileiro é em 2010.
A empresa reafirma que, antes das autorizações oficiais,
usar o colírio medicamentoso
para fins estéticos não é uma
prática adequada, e que nenhum medicamento deve ser
utilizado sem a aprovação dos
órgãos regulatórios locais ou
sem a orientação de um médico
especialista.
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