São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2009

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ANAGRAMA

O excesso é condenável

por ANA RIBEIRO

Claudia Moreira Salles, 53, designer carioca radicada em São Paulo, ajudou a definir a arquitetura do móvel brasileiro contemporâneo. Em seus modelos, frequentes objetos de exposições em museus, usa a madeira, sua principal matéria-prima, de maneira limpa e equilibrada. Ela é Moreira Salles por parte do marido, o editor Fernando, também presidente do conselho da CBMM (Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração), maior produtora mundial do metal nióbio, e irmão mais velho de Pedro, Walter e João. Mãe de Lucas (24) e André (19), ela parodia Vinicius de Moraes: "beleza é essencial".

A coisa mais absurda das casas muito decoradas dos brasileiros é a pretensão. Aquela ideia de morar em palácios, de imitar uma estética que não tem a ver com o nosso tempo e nem com a nossa vivência. Você não sente o que as pessoas têm a dizer, talvez nada... O excesso e a pretensão são, na minha opinião, o mais condenável. Beleza é a simplicidade.

Não sabia da crise que se anunciava nem tive informação privilegiada a esse respeito. Mas tinha alguma coisa de muito errada no mundo, as pessoas estavam ricas demais, gastando demais, o mundo estava muito cafajeste. Esse modelo imediatista e descartável, das celebridades instantâneas e dos ricos emergentes, estava esgotado.

Não tenho o menor tino para os negócios e a única vez que consegui pechinchar na vida foi num antiquário. Comprei um vaso, cheguei em casa e quebrei quando fui lavá-lo. Não sei negociar preço nem no Marrocos, onde o valor das coisas é definida no blablablá.

Eu conheci Santiago -o mordomo excêntrico do documentário de seu cunhado, o cineasta João Moreira Salles) quando ele já estava velho e meio afastado de suas atividades. O senhor Walther (seu sogro) já tinha se mudado da casa da Gávea (onde hoje está instalado o Instituto Moreira Salles, no Rio) e Santiago vinha de vez em quando do Leblon, onde ele morava, para arrumar as flores, era só do que cuidava. Ele não era fácil, era bem temperamental.

Meus filhos são muito sensíveis, amam música, mas optaram por carreiras convencionais. Um é formado em direito, o outro vai começar a estudar administração. E eu que torcia tanto para um dos dois ser arquiteto!

A coisa mais importante que eu aprendi na faculdade foi a olhar em volta.

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