São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2009

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MODA

Paraíso da opulência

por ALCINO LEITE NETO

Serafina faz um tour pelo prédio da Tiffany em Nova York e visita o andar onde as joias especiais são produzidas

Raras grifes e lojas tiveram o privilégio de se transformar em mitos culturais. A joalheria Tiffany foi uma delas. E isso ocorreu sobretudo por causa da literatura e do cinema, com o livro "Breakfast at Tiffany's" (no Brasil, "Bonequinha de Luxo"), de Truman Capote, de 1958, e a sua adaptação para as telas em 1961, no filme dirigido por Blake Edwards e estrelado por Audrey Hepburn.

Não foi para fazer merchandising da empresa, como é tão comum hoje, que Capote e Edwards evocaram a joalheria. A citação representou o auge da fama da Tiffany no imaginário americano, como símbolo de luxo e elegância. A cena em que a personagem Holly Golightly, a "call girl" provinciana interpretada por Audrey, com um copo de café e um bolinho nas mãos, namora os diamantes da vitrine da loja em Nova York, é um dos momentos imortais de Hollywood. "Nada de muito ruim pode acontecer com você aqui", diz a personagem sobre a Tiffany -frase que, no filme, acaba soando com um misto de melancolia e ironia.

Desde então, o prédio da Tiffany, inaugurado em 1940 na Quinta Avenida com a rua 57, transformou-se num ponto turístico de Nova York. Para conhecer o que a loja guarda para além das vitrines que enfeitiçavam Holly Golightly, Serafina visitou os principais andares da loja, inclusive o ultrasseguro sétimo piso, onde são feitas artesanalmente as joias especiais e mais caras.

Diariamente, cerca de 6.000 pessoas entram no prédio de dez andares, onde trabalham 3.000 funcionários. Fora o térreo e o mezanino, os compradores podem transitar em apenas quatro pisos: o segundo, o terceiro, o quarto e o sexto. O quinto andar é aberto esporadicamente para eventos e exposições. Nos andares restantes, ficam os escritórios e a segurança.

No térreo, está exposto o célebre diamante Tiffany, com 128 quilates, descoberto em 1878 na África do Sul. A preciosidade foi redesenhada mais tarde pelo designer francês Jean Schlumberger, que lhe acrescentou um pássaro de ouro e brilhantes. A joia é uma espécie de troféu da joalheria.

A Tiffany foi criada em 1837, por Charles Lewis Tiffany e Teddy Young, e sua trajetória coincide com o período de expansão dos EUA como potência mundial. Nessa história, a marca foi um dos símbolos da riqueza do país e de seu ímpeto modernizador, ao revolucionar o design e o comércio de joias. Com a atual crise, a aura do prédio da Quinta Avenida se amplia ainda mais, como se lá dentro estivesse guardado o segredo de um tempo antigo -o da espetacular opulência americana.

térreo

Mais de mil joias estão expostas no andar térreo, que reúne sobretudo as criações dos designers Jean Schlumberger, Elsa Peretti, Paloma Picasso e do arquiteto Frank Gehry. Os preços começam em cerca de US$ 300 e podem chegar a mais de US$ 1 milhão.

mezanino

Esse andar intermediário, decorado no estilo déco, é todo ele ocupado por produtos da relojoaria de luxo suíça Patek Philippe, com a qual a Tiffany tem uma parceria. Um espelho ao fundo da sala pode ser escondido eletronicamente, revelando a oficina de um relojoeiro.

2º andar

"Existe muito amor neste andar", brinca Detra Segar, vice-presidente da Tiffany e gerente-geral da loja. É que no local estão expostos os anéis de noivado e casamento (cujo preço médio é US$ 2.000). O andar tem várias saletas privadas, para que os noivos sejam recebidos com discrição pelos vendedores. Impressionantes colares de pérolas "dos mares do sul" também estão à venda nesse piso.

3º andar

Esta é a parte "popular" da luxuosa Tiffany, onde estão à venda as joias menos caras, inclusive dos famosos designers da marca. Coisa rara na loja, aqui, alguns produtos têm seus preços estampados em etiquetas. O piso também abriga o Charm Bar, na verdade um espaço onde estão expostas joias de preços ainda mais acessíveis, que os compradores podem pegar e experimentar, sem a ajuda de vendedores.

4º andar

A Tiffany não cria e vende joias apenas. Desde as origens da marca, produz também objetos de decoração e de mesa, que estão expostos no quarto andar. São sofisticadas peças em cristal e em prata, como faqueiros. É neste piso que ficam também as listas de casamento.

7º andar

Pouquíssimos têm acesso a esse andar. Atrás das suas portas, com sistema reforçado de segurança, as joias especiais e muito caras da Tiffany são produzidas por uma equipe de 21 pessoas (fotos à esq.), dirigida até 2008 pelo argentino Carlos Lucyk. São peças que levam às vezes mais de mil a para serem feitas. Por isso, a equipe produz por ano apenas 250 itens, cujos preços podem ultrapassar US$ 3 milhões. A equipe de joalheiros reúne pessoas de diversas nacionalidades, de peruanos a poloneses. "É um espelho do multiculturalismo americano", disse Lucyk. Toda noite, o local é varrido cuidadosamente. O lixo é guardado e enviado para uma refinaria, que extrai dos entulhos os vestígios de ouro e prata.


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