São Paulo, domingo, 23 de maio de 2010

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TERETETÉ

Uma conversa com Eric Lax, o biógrafo de Woody Allen

por TETÉ RIBEIRO

O escritor canadense Eric Lax, 66, tem um relacionamento de 39 anos com Woody Allen. Os dois se conheceram em 1971, quando Eric, aos 27 anos, fez a primeira entrevista com o comediante, aos 36. Desde então, encontram-se de duas a três vezes por ano e mantêm um diálogo frequente por telefone ou e-mail. Eric já publicou duas biografias, um ensaio e várias reportagens em revistas e jornais sobre o cineasta. O último livro, "Conversas com Woody Allen" (editora Cosac Naify), ganhou uma segunda edição recentemente, com novas entrevistas sobre o longa em cartaz "Tudo Pode Dar Certo".

Em passagem pelo Brasil ?neste mês, o escritor começou ?uma conversa com a coluna concluída por telefone, com ele em ?Southampton, a praia dos nova-iorquinos abastados. Tinha acabado de assistir ao novo filme de ?Allen, "You Will Meet a Tall Dark Stranger", que ainda não tem data de estreia programada por aqui e teve première mundial no festival de Cannes. E, ah, sim, ficou tão surpreso quanto o resto do mundo quando o cineasta trocou Mia Farrow pela filha adotiva dela, Soon-Yi Previn, com quem vive há 18 anos.

Quando houve o escândalo da troca da Mia Farrow pela ?Soon-Yi Previn, em 1992, respingou alguma coisa em você? Muito. Escrevi uma biografia dele em 1990, que foi publicada em 1991, um ano antes de tudo isso acontecer. Mas, quando aconteceu, as pessoas ficaram com muita raiva de mim, achavam que eu sabia de tudo e não botei no livro porque somos amigos. Como eu poderia prever isso? Se eu soubesse, certamente teria botado no livro.

Na praia onde você está, acontece uma história ótima com Woody Allen e Mia Farrow narrada no livro, não? É, ele comprou uma casa linda depois de filmar "Interiores" (1978) aqui, reformou, decorou, pensou em cada detalhe. Quando ficou pronta, dormiu uma noite e nunca mais voltou.

O que aconteceu? Acho que o mesmo que acontece com os filmes dele. Ele sente prazer em realizar projetos, mas, quando estão prontos, não quer mais pensar nisso. Prefere começar alguma coisa nova.

A tradução brasileira tem ele dizendo que tentou trabalhar com Bob Downey em "Melinda e Melinda", mas não conseguiu. Bob Downey é Robert Downey Jr., né? É. Ele queria a Winona Ryder também, mas a companhia de seguro ia cobrar muito dinheiro porque considerava os dois atores fatores de risco. Ele tentou muito, ficou desapontado de não ter conseguido colocar o Bob Downey no elenco.

Ele fala que os galãs americanos são masculinos demais, que parecem andar armados, por isso não servem para ?as histórias que ele conta. ?George Clooney, Brad Pitt e Matt Damon podem esquecer o sonho de trabalhar com ele? Agora que ele não coloca mais o "personagem Woody Allen" nos filmes, as histórias podem ir para várias direções diferentes. Quem sabe não aparece alguma coisa para o George Clooney?

Ele diz que é uma personalidade depressiva. Mas, no seu livro, fica claro que age de maneira a evitar aborrecimentos e ter mais prazer. Acredita que ele seja o seu próprio guru de auto-ajuda? Isso é muito bom! Fazer filmes é muito terapêutico para ele. Ele me disse que uma das razões por que é tão prolífico é que, por nove meses a cada ano, consegue viver em um mundo de fantasia, com gângsteres, showgirls ou o que ele resolva inventar. Também fez muitos anos de psicanálise, teve épocas em que ligava do orelhão para o psicanalista durante as filmagens, na parada para o almoço.

E como andam os planos para filmar no Brasil? Não há nada concreto. Ele vai fazer um filme em Paris agora, um romance que já tentou filmar antes, mas não teve dinheiro. Falei muito bem do Brasil para ele, que ouviu sorrindo. Já é alguma coisa, não?

Você sempre assiste aos filmes antes de estrear? Já viu o novo, "You Will Meet a Tall Dark Stranger"? Sim, dois dias depois de eu chegar do Brasil (há três semanas). Assisto a quase todos em seu escritório em Manhattan, com um pequeno grupo de amigos. Gostei muito desse, é engraçado, dramático e muito malicioso. É mais uma de suas meditações a respeito da fragilidade dos relacionamentos.

Você visita os sets de filmagem, as ilhas de edição, e conheceu quase todas as mulheres e namoradas dele. Em que situação ele fica mais feliz? E com quem? Desde que o conheci, só o vi realmente realizado desde que começou a se relacionar com a Soon-Yi. Ele nem usava essa palavra antes, acho que não sabia como era estar em um bom relacionamento. No trabalho, o que ele mais gosta é de escrever os roteiros. Primeiro ele passa seis semanas pensando na história, criando os personagens e a trama, e, nessa fase, sente-se muito angustiado, tem dores de estômago, fica muito ansioso. Mas, quando resolve a história na cabeça dele e se senta na máquina de escrever, tem muito prazer. Na área pessoal não há a menor dúvida, a Soon-Yi é a mulher que o faz feliz.

Você está em Southampton agora, visitando o seu sogro, para quem o livro do Woody Allen é dedicado (Eric Lax é genro de Punch Sulzberger, ex-publisher do jornal "The New York Times" e pai de Arthur Sulzberger, o publisher atual). Por que dedicou a ele? Dois motivos: primeiro, por causa de minha admiração pelo seu trabalho. Acho que ele é o melhor exemplo do que um publisher deve ser. E, segundo, porque ele é um sogro maravilhoso, uma ótima companhia, um ótimo amigo. Convivo com ele há 30 anos e minha admiração só aumenta.

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