São Paulo, domingo, 26 de abril de 2009

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QUE FIM LEVOU

Depois do castelo

por CLÁUDIA DALLAVERDE

Roteirista da série DE TV sensação nos anos 90 investiga o paradeiro dos personagens mirins Pedro, Bia e Zeca.

Para onde vão os heróis quando as histórias acabam? As princesas tudo bem, sabemos que se casam e são felizes para sempre; os solitários partem para novas aventuras; os que entraram por uma porta e saíram pela outra continuam suas vidas fora do mundo encantado. Nino, o bruxo-criança da série "Castelo Rá-Tim-Bum" (exibida pela TV Cultura até 1997), provavelmente continua a jogar sua bola mágica para fora do pátio, para atrair novos amigos.

Mas como continua a história de Pedro, Biba e Zequinha, que um dia em 1994 saíram da escola como se fosse um dia normal e correram atrás da bola de Nino? Quando foi, exatamente, que pararam de visitar o Castelo Rá-Tim-Bum? Por quê? A resposta é a mesma, aconteceu o que acontece com toda criança convidada a passar pela porta do encantamento: é um mundo transitório, que existe enquanto a gente é criança e que o tempo se encarrega de colocar de volta naquela região mágica que não tem explicação, ou não seria mágica.

Alice cresceu e passou a ler livros sem figuras e sem diálogos. Wendy ainda foi de muita utilidade para sua filha quando chegou a vez dela de viajar para a Terra do Nunca. Agora se abre novamente uma oportunidade para quem teve a infância embalada ao som do "bum bum bum, Castelo Rá-Tim-Bum". Diga a senha, entre, respire fundo. Você está prestes a se reencontrar com Pedro, Biba e Zequinha. Boa aventura.

Primeiro Episódio

O COMEÇO

Luciano Amaral, o Pedro, tinha 13 anos quando entrou pela primeira vez no Castelo, mas já era um veterano em viagens desde o programa "Mundo da Lua", quando, na pele de Lucas, ligava seu gravador e reeditava as aventuras da família Silva e Silva. Cinthya Rachel, a Biba, tinha de 12 para 13 e fazia outro programa da TV Cultura, chamado "O Professor". Fredy Allan, o Zequinha, estreava no teatro com "A Fuga do Planeta Kiltran", onde dividia o palco com os outros dois. Tinha 6 ou 7 anos e foi indicado para o prêmio Apetesp de ator revelação. O diretor do programa, Cao Hamburger, foi ver o espetáculo já sabendo dos outros dois, gostou do entrosamento e completou o time.

Foram um ano e sete meses de gravações, dos quais todos se lembram como trabalhosos e divertidos. Luciano fala dos aniversários comemorados no Castelo, Cinthya da roupa linda de princesa que vestiu para gravar "Tico-Tico no Fubá" no Teatro Municipal. Fredy, como Zequinha, era enxerido: dava sua opinião sobre movimentos de câmera e, na hora do almoço, ia para a ilha de edição. O mais legal era que o diretor deixava.

Todos falam com carinho de programas que reuniam o elenco completo, o que era raro. Vale lembrar que o anfitrião, Nino, era Cássio Scapin, sobrinho da Morgana (Rosi Campos) e do dr. Victor (Sérgio Mamberti). As visitas atendiam pelos nomes de Bongô (Eduardo Silva), Penélope (Ângela Dip), Caipora (Patrícia Gaspar). Sem contar que o arquiinimigo, dr. Abobrinha, era defendido com brilhantismo por Pascoal da Conceição e a cobra Celeste falava pela voz inconfundível de Cleide Queiroz. Por tudo isso, os visitantes se lembram das aventuras do "Castelo" como uma grande experiência de aprendizagem e estímulo, como dá para ver no próximo episódio.

Segundo Episódio

VIDA REAL

Em que pese a sedução do faz de conta, nossos heróis não tiveram problemas de adaptação com o mundo real.

CENA 1 - LUCIANO AMARAL

"Vai parecer um pouco chato, mas é verdade: quando as gravações terminaram é claro que fiquei triste, mas faz parte do processo. Já tinha passado por isso algumas vezes, pra mim foi bem tranquilo."

CENA 2 - CINTHYA RAQUEL

"No nosso trabalho, passamos repetidamente pela experiência do fim, de abrir mão daquele universo, daquela família e daqueles personagens. O trabalho acaba, mas ficam os amigos."

CENA 3 - FREDDY

"Se entramos em algum mundo mágico, que é o da criação da magia, eu pelo menos não saí dele. A magia do 'Castelo' vai além da magia como algo irreal, porque ele não só sustentou as crianças daquela época como acompanhou as crianças que foram vindo."

Terceiro Episódio

A FAMA

CENA 4 - LUCIANO

"Minha vida já tinha mudado muito por causa do "Mundo da Lua". O Castelo veio dar mais credibilidade para minha carreira."

CENA 5 - CINTHYA

"Até hoje, 15 anos depois, as pessoas ainda me chamam de Biba: tem gente muito carinhosa, que diz que o programa ajudou na criação dos filhos, tem quem chegue pegando(!!), beliscando (!!) e ainda recomenda para o filho: belisca pra ver se é de verdade, filho! É engraçado."

CENA 6 - FREDDY

"A longo prazo, é como um artista se coloca perante esse reconhecimento que todos adoram chamar de fama, mas, se você se coloca como igual, apenas mais um criador do telúrico social, a reação das pessoas vai mudando. É estimulante e assustador e, por causa dos dois, divertido ao mesmo tempo."

Desfechos

Luciano, 29, o viajante virtual

É ator de teatro e continua trabalhando na TV, mas como apresentador (HIT TVê, exibido até janeiro deste ano pela Rede TV!). Seu trabalho mais recente é a direção do espetáculo "Mamma Mia", na Casa de Artes Operária, que forma atores para musicais.

Cinthya, 28, de criatura a criadora

Se formou em jornalismo e tem uma paixão: escrever. Publicou dois livros, um deles "O Menino que não Queria Tomar Banho". E se define no (ótimo) blog como "apenas mais uma pessoa que adoraria viver num comercial de margarina no qual todos são felizes e ninguém precisa lavar a louça no final."

Freddy, 24, teatro porque sim

Participou da montagem de "Os Sertões", dirigida por Zé Celso Martinez Corrêa, no teatro Oficina. Está montando "A Morta", de Oswald de Andrade, para ser apresentado virtualmente em homenagem aos cem anos do teatro Dulcina de Moraes, no Rio. "Eu escrevo peças, adaptei 'A Morta' em homenagem à Dulcina [de Moraes, uma das maiores atrizes do teatro brasileiro], toco trompete por amor."



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