São Paulo, domingo, 27 de abril de 2008

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Pessoa Física - Marcus Elias

Com a vida ganha

Da infância pobre no bairro paulistano do Ipiranga ao comando da Parmalat, a trajetória do empresário bon vivant que domou a top model inglesa Naomi Campbell

por Guilherme Barros

Ele tem sido notícia no mundo inteiro. Seja pelo romance relâmpago com a top Naomi Campbell --que ele nega--, seja pelas novas investidas da Parmalat, com aquisições de marcas como Poços de Caldas, da Danone, o fato é que Marcus Elias, 49, está no topo.

Nos três anos à frente da Parmalat, a empresa saiu de seis para 15 fábricas e o faturamento dobrou, no ano passado, para R$ 1,2 bilhão. Recentemente, captou no mercado R$ 507 milhões com o lançamento de ações. Ele pretende investir todo o dinheiro na companhia.

Longe do figurino tradicional do empresário que veste terno e gravata --o que ele faz apenas em ocasiões especiais--, o que Marcus Elias gosta mesmo, além de ganhar dinheiro, é de curtir a vida. Em poucas palavras, comer bem, beber bem e se vestir bem.

Pode ser visto quase todos os dias nos melhores restaurantes de São Paulo apreciando um dos mais de mil vinhos de sua adega --ele leva suas próprias garrafas-- e está sempre vestindo grifes internacionais como Armani, Prada, Gucci e Ermenegildo Zegna. Fora do trabalho, não gosta de falar de negócios.

Em sua casa, num condomínio bucólico de São Paulo, entre mais de cem árvores frutíferas, há um jardim que preserva até hoje a casa do Tarzan onde os filhos brincavam quando eram pequenos, e que hoje serve como uma espécie de refúgio para ele.

O som ambiente está sempre ligado em música popular brasileira. às vezes, promove festas em casa para os amigos. No seu aniversário, sempre contrata o MPB 4 para tocar. Entre obras de arte de pintores como Mário Gruber e enormes esculturas que trouxe da Tanzânia, é lá que ele pratica seu lado esotérico.

Na biblioteca de mais de mil livros, é difícil encontrar um exemplar que trate de negócios. Ele detesta ler qualquer coisa sobre o assunto. A grande maioria das obras nas suas estantes versa sobre religião oriental e filosofia. De natureza acelerada, mantém rotina quase espartana. Dorme pouco, diz que de três a quatro horas por noite, o que ele acha ruim, mas não consegue mudar --e, diga-se, também não se esforça muito para isso.

Artes marciais

Acorda sempre por volta das seis, medita durante mais ou menos meia hora, pratica tai chi chuan e, sempre que pode, leva os filhos à escola. Mora perto da casa da ex-mulher, Juliana, mãe de dois de seus três filhos, com quem viveu por 17 anos.

Depois, nada 2.000 metros na piscina de casa, corre na esteira e, por fim, faz musculação --todas as atividades acompanhado por três personal trainers, uma para cada atividade.

Duas vezes por semana (ou mais), pratica um mix de lutas marciais: caratê, jiu-jitsu e boxe tailandês, para treinar a capacidade de defesa. Dedica-se a esse treinamento desde a época em que estudou num colégio marista, ao lado da favela Barroca da Zona Sul, onde começou a lutar capoeira. Diz que faz tudo isso apenas para poder comer bem e beber bem, em quantidade e qualidade, sem ganhar alguns quilos. E fumar alguns cigarrinhos furtivos, longe da vista dos filhos.

Muito apegado à família, como bom canceriano, é descendente de libaneses. Todos os seus irmãos trabalham com ele, em outras empresas que possui. Sobre seus romances, não gosta muito de falar, muito menos sobre o "namoro" fugaz com Naomi Campbell. Ele só diz que conheceu a top numa festa e num momento em que estava rompido com a atual namorada, Janaína, 28, uma morena alta, de cabelos longos, formada em educação física, cuja família vive em Florianópolis. Repete que não teve nada com Naomi. São apenas bons amigos.

Nascido no bairro do Ipiranga, Marcus Elias é o segundo dos cinco filhos de seu Mário, um contador que conseguiu enriquecer ao se tornar dono de uma empresa de ônibus em São Paulo, mas que perdeu tudo em meados da década de 70. De uma hora para outra, o mundo caiu para a família de Mário, hoje com 82 anos, e dona Aparecida, que morreu em 94, aos 62 anos.

A derrocada foi marcante na vida de Marcus Elias. Naquele momento, o empresário, que tinha cerca de 16 anos, se rebelou na escola, tanto que foi expulso do colégio onde estudava. Jurou que iria ganhar dinheiro para nunca mais ter de passar por aquela experiência.

Mais cedo do que podia imaginar, conseguiu atingir seu objetivo. Aos 30, depois de uma carreira bem-sucedida no mercado financeiro, Marcus Elias já tinha acumulado o suficiente para poder continuar comendo e bebendo bem sem ter necessidade de pegar no batente.

Sentido para a vida

Foi nessa hora, e ele não sabe explicar bem, que bateu uma crise de consciência e ele começou a querer buscar um sentido para a vida. O empresário então passou a se dedicar ao estudo das diversas religiões. Leu o Alcorão, a Bíblia, freqüentou sinagogas, mesquitas e terreiros de candomblé, mas foi com o budismo que ele mais se identificou.

Ele se diz admirador do guru Gueorgui Ivanovich Gurdjieff, que no Brasil inspira o Instituto para o Desenvolvimento do Homem --para uns, uma seita, para ele, um grupo de estudos. A principal mensagem de Gurdjeiff é levar as pessoas ao despertar da consciência, sem culpa.

Marcus Elias segue à risca. Tanto que guarda em seu laptop --no passado, era a cabeceira da cama-- dois pensamentos que marcam sua vida, ambos do dalai-lama. Um é o seguinte: "Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde. E, por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem-se do presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente nem o futuro. E vivem como se nunca fossem morrer... E morrem como se nunca tivessem vivido".

O outro é este: "Só existem dois dias do ano em que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã. Portanto, hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e, principalmente, viver".

Marcus Elias diz que todo esse interesse pelo estudo da filosofia, da religião e das próprias origens --ele já visitou seus familiares no Líbano e a igreja maronita freqüentada por eles-- pode ser a busca pela vida, pelo sentido da vida. Ou, quem sabe, coisa de milionário excêntrico que quer fazer algo diferente.

"às vezes eu mesmo me pergunto", diz ele. "Será que isso é coisa de quem está com a vida ganha?"


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