São Paulo, domingo, 27 de abril de 2008

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Fina - Michelle Obama

O lado B de Obama

Advogada formada em Harvard, Michelle Obama faz comícios tão disputados quanto os de "Barry", o marido, é viciada em sudoku e sabe coadjuvar como ninguém na campanha do pré-candidato democrata

por Sérgio Dávila, de Washington

é complicado o cargo de "mulher de" ou "marido de". Pense em Yoko. Ou no príncipe Philip. A coisa melhora um pouco se você é primeira-dama dos Estados Unidos. O público reserva um lugar especial sob a pasta "curiosidade atiçada" para as acompanhantes dos ocupantes da Casa Branca. Houve Eleanor Roosevelt (lésbica?), Betty Ford (alcoólatra) e, é claro, Hillary Clinton, que, enquanto escrevo estas mal traçadas, luta com todas as forças para fazer de Bill Clinton um "marido de".

Mas nunca houve uma mulher como Jackie Kennedy. A então parceira de um dos presidentes mais carismáticos que os EUA já tiveram virou o paradigma das gerações futuras não só de primeiras-damas, mas de "mulheres de". Até Michelle Obama. Embora esteja numa posição pior do que a de "mulher de" --a advogada de Harvard é "mulher de pré-candidato"--, a companheira de Barack Obama de 44 anos vem encantando público (seus comícios são quase tão disputados quando os do marido) e crítica (11 em cada dez cadernos de estilo e revistas locais já a colocaram na capa) nessa campanha presidencial.

A essa altura, sua história já é manjada: ela trabalhava num grande escritório de advocacia de Chicago quando lhe passaram a incumbência de ser mentora de um estagiário. "Barry" acabara de chegar de Nova York, e logo os dois começaram a namorar. Na primeira vez que saíram juntos, foram assistir a "Faça a Coisa Certa", de Spike Lee. Fizeram: casaram-se em 1992 e têm duas filhas, Malia Ann, de 9 anos, e Natasha (que os pais chama de Sasha), de 6.

Michelle LaVaughn Robinson Obama nasceu em Chicago, Illinois, a caçula de dois filhos de uma família de classe média. Foi educada em Princeton e Harvard, duas das melhores universidades norte-americanas. Se Obama é o sonho, ela é o feijão. Pé no chão, era contra o marido sair candidato à presidência por medo de ele não participar da criação das filhas e, no começo da corrida, assustava a imprensa local ao dizer coisas como "ele às vezes se esquece de escovar os dentes".

Mais conservadora politicamente, gosta de ver séries antigas na TV e seu prato predileto é macarrão com queijo. Diz-se viciada em sudoku e veste-se com roupas de Maria Pinto, estilista italiana baseada em Chicago que se inspira em Jackie O em suas criações para a amiga famosa.

Eu a vi algumas vezes em ação. Uma delas na Super-Terça, em fevereiro, em Chicago, quando Obama ganhou em mais Estados do que se esperava e consolidou-se como o pré-candidato favorito entre os democratas. Animada, ela tentou tirar o marido para dançar ao som de "Signed, Sealed, Delivered - I'm Yours!", o soul de 1970 de Stevie Wonder que é a marca registrada das entradas triunfais de Obama nos comícios. Duro como o varapau que é, o senador arriscou uns passos e caiu no riso.

Outra foi diante de uma igreja em San Antonio, no Texas. Seu marido acabara de perder em dois Estados importantes nas prévias daquele dia frio de março. Tinha de sair e encarar a multidão, que esperava por uma palavra de Obama tiritando no sereno. Ela veio com ele por uma passarela até o púlpito. Vestia um tailleur escuro que combinava com o humor da noite. Enquanto o político começava a discursar e ouvir os primeiros aplausos de uma platéia até então desanimada, ela foi se retirando.

Estacionou a poucos metros de onde eu estava, nos bastidores, perto de alguns homens do Serviço Secreto e ao lado da menina que opera o laptop com os discursos de Obama, que ele lê enquanto as frases escorregam num imperceptível teleprompter e ajudam a passar a sensação de "segurança" e "espontaneidade" que muitos atribuem às suas falas.

Ao final, aclamado, Obama veio buscá-la para apertarem juntos as mãos dos eleitores. Michelle enxugou as lágrimas, vestiu seu melhor sorriso e foi.


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